DESÁGUA
Ninguém vai me ter.
Ninguém mais vai se dispor a me amar.
Ninguém mais vai me abraçar.
E ninguém mais vai me perceber.
Não há nada tão imensurável para preencher meu vazio.
Nada tão afável para curar meu frio.
Nada tão doce para me fazer acreditar.
Nada tão real que me faça novamente amar.
Nada tão anestésico que cure tal dor
Nada tão profundo quanto o amor
Nada tão sincero quanto seu sorriso
Nada tão honesto quanto o previsto.
Ninguém vai me ter.
Ninguém vai me querer.
Ninguém vai me desejar.
Ninguém em mim nada irá despertar.
Eu já parti há tempos.
Eu deixei apenas meu corpo.
A alma se fora, resta o corpo oco.
E lamentos. Lamentos.
É gelado, é vazio.
É o que resta em mim.
Nada me machuca tanto assim.
E assim termina meu declínio.
Não há para onde se cair além do chão.
Não há como subir além do céu.
Não há como reviver uma paixão.
Não há como reverter o apogeu.
É tão seco.
O seu medo.
É tão falso.
Sem impulso.
E da vida que tinha não resta mais nada
Além de recolher os pedaços malditos
E seguir até onde desagua
A vida em conflito.