DESÁGUA

Ninguém vai me ter.

Ninguém mais vai se dispor a me amar.

Ninguém mais vai me abraçar.

E ninguém mais vai me perceber.

Não há nada tão imensurável para preencher meu vazio.

Nada tão afável para curar meu frio.

Nada tão doce para me fazer acreditar.

Nada tão real que me faça novamente amar.

Nada tão anestésico que cure tal dor

Nada tão profundo quanto o amor

Nada tão sincero quanto seu sorriso

Nada tão honesto quanto o previsto.

Ninguém vai me ter.

Ninguém vai me querer.

Ninguém vai me desejar.

Ninguém em mim nada irá despertar.

Eu já parti há tempos.

Eu deixei apenas meu corpo.

A alma se fora, resta o corpo oco.

E lamentos. Lamentos.

É gelado, é vazio.

É o que resta em mim.

Nada me machuca tanto assim.

E assim termina meu declínio.

Não há para onde se cair além do chão.

Não há como subir além do céu.

Não há como reviver uma paixão.

Não há como reverter o apogeu.

É tão seco.

O seu medo.

É tão falso.

Sem impulso.

E da vida que tinha não resta mais nada

Além de recolher os pedaços malditos

E seguir até onde desagua

A vida em conflito.

Alice Mawdrell
Enviado por Alice Mawdrell em 16/11/2015
Código do texto: T5451088
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.