Plantar e colher
Como acordará a minha luz, sem teu sorriso que tudo apaga?
Como será a costela de quem não está ao lado?
O umbigo que não grita e os gritos que são surdos?
Que sabor terá a sobremesa longínqua e o amor que esconde o rosto?
O que revela o nada e o tudo que só vê fantasmas?
Quero plantar-te e colher-te com abundância e quero bastar-te, com todos os exageros
Quero que pises meu solo e tudo de mim e quero beijar teus cabelos e afagá-los, com mãos de quem planta e colhe.
Quero fundir-me em ti e incorporar-te em mim, por que nada me basta até engolir-te inteira.
Quero fertilizar teus sonhos e tirar cópia das tuas verdades
E, se o tempo permitir, quero entranhar em ti as minhas raízes.
Que exale em ti o aroma do meu querer-te.
Que minhas cláusulas incluam os teus entalhes e que o teu beijo seja a minha ceia.
Que o hálito da natureza te dê o abraço e a luz do aconchego.
Teus passos colam as minhas páginas e ressoam os meus olhos.
Teu calor é o meu pão de cada dia e tua voz passeia pelo vale da minha verdade.
Quero bastar-te sempre e ter como medida o impossível.
Desfaleço no teu cheiro com milhões de prazeres.
Olhar-me sem ti é não me ver e olhar e não te ver é me perder de vista
Na minha porta, a tua foto e sementes.