O coração dos homens
Ela passou por mim,mas a tão esperada ligação de olhares não aconteceu.Nesta hora me perguntei novamente se realmente era ela.Não sabia se deixava-a passar, sem direção, em seu andar vago ou tomava coragem, estufava o peito e ia ao seu encontro. Nem um nem outro, na verdade, passei a caminhar atrás de ti, na esperança de que ela, ao virar-se para olhar algo ou abaixasse para amarrar os sapatos me visse, mas assim não aconteceu.
Não aguentei ver teu corpo tão calmo, tão brando andar a poucos metros de mim, e eu, eu ali naquela covardia que aflora no coração de todo apaixonado.
A esta altura eu já desistira dos olhares, das palavras, do encontro. Agora seus passos antes dormentes se esticavam, se distanciando mais rápido, parecia ter acordado do sono de seus pensamentos e percebido estar atrasada.Mas onde iria com tanta pressa? Com certeza não tinha um encontro marcado comigo.
Ao vê-la virar a esquina também apressei os passos, nem sei porque a segui, nem até quando, só queria estar próximo.
Aquela esquina...Ah, aquela esquina...Não imaginara eu que esta se tornasse o carrasco de minha história de amor ainda inexistente. Foi ali que perdi sua imagem, em meio aquela valsa de buzinas, foi ali que a perdi, sem ganhar ao menos o último olhar.
Depois deste dia não a vi mais, pressa e as olhadas no relógio deviam ser para pegar um ônibus, talvez um avião e mudar-se para longe de mim. Assim acabou mais uma história onde só eu amei, onde o único a sentir o peito apertar-se fui eu. Num tombo impiedoso saí do mundo dos apaixonados e pousei novamente na cinza realidade, aguardando cautelosamente o dia em que ao andar na rua, sem pretensão alguma eu encontre aquela mulher, com os mesmos cabelos, o mesmo andar, para inserir em minhas loucuras, fazer desta a mulher da minha vida, nem que seja por alguns instantes e apenas em minha perturbada e solitária mente.