CHORO DE FELICIDADE
Era uma noite de outono enluarada e o frescor da brisa mansa envolvia-nos no olor dos manacás e das primaveras ainda exuberantes.
Com toda claridade do amarelo e branco quase azul do luar crescente já no ápice para a cheia aquela não era uma noite de tanta alegria, mas sim, de apreensão e tristeza.
Era uma noite de despedidas. A mulher que eu mais amava pediu-me um tempo para maiores reflexões com o que, eu, respeitando o seu livre arbítrio havia concedido, ainda que de coração partido.
Dalí em diante passamos a cruzar caminhos, rios, céus e mares misteriosamente diferentes e até antagônicos. As nossas vidas tomaram novos rumos.
Por meu turno eu apenas me concedi o direito de continuar a amando e de esperar o desfecho final, uma vez que conforme o meu entendimento o mundo não se acaba tão somente por conta de um tropeço ou de uma desilusão.
Em alguns momentos, principalmente nas noites frias sentia a sua falta e chorava. Chorava baixinho no meu canto onde às vezes a via nos sonhos ou alucinações.
Quanto tempo me passou não contabilizei. Ao fazer a barba ou pentear-me notava aos poucos as mechas se fios de cabelos brancos se expandindo. Coisa natural de qualquer ser humano, homem ou mulher.
Numas dessas noites tristes das quais rogamos a Deus nunca mais dela se lembrar, quando já deitado ouvindo o tilintar das goteiras caindo, tocou a campainha. Apressado troquei de roupa e corri para atender o chamado, apreensivo pelo adiantado da hora.
Abri a porta e tomei um susto. Ali estava a minha amada tão linda como sempre. O tempo pareceu-me não ter alterado nada naquela mulher. Passados esses minutos eu a convidei para entrar, procurando recolher as bagagens
Sem nada mais perguntar e sem nada mais ela me falar ou explicar nos abraçamos, nos beijamos e nos amamos loucamente como se fosse a nossa primeira vez.
Afinal, para o amor e pra se amar não existem explicações. Existem razões que os nossos corações tem e absorvem. O perdão vem em primeiro lugar. O nosso choro copioso era de felicidade. De muita felicidade. Pra que estragar com indagações?