Esculpido
Na miséria dos teus olhos,
Vejo o mármore das escleras,
Refletindo o vazio que ignoro,
Em um sopro de fagulhas megeras.
No eclipse das pálpebras,
Vejo as chuvas de lágrimas,
Transbordarem em cócegas,
Que escorrem feito páginas.
No silêncio dos teus beijos,
Cada fogo fátuo de hálito,
Enevoa um estranho desejo,
Com feridas no peito de cacto.
Pressinto as setas do Cupido,
Que lança dardos venenosos,
Matando com um amor sofrido,
Abrindo o tórax no estalar de ossos.
Cintilando as estrelas em suas pupilas,
Num universo de apaixonantes supernovas,
Na contramão de um caminho que castiga,
Fazendo de cada ferida uma nova escola.
Se no compasso dos teus cílios,
Vejo as persianas drásticas,
Que são como um jardim de lírios,
Dando gostosas gargalhadas.
Espero teu doce segredo,
Na abertura da magia viva,
Que remove o nosso medo,
Mostrando a força da despedida.