Intermédio Erótico**
No cimo da noite, durante nossas horas preferidas,
Estenderemos, ambos, nossas mãos às carícias certas,
Que nos fazem respirar com mais calma, embora o peito sinta a necessidade
Do verso branco de nossos sonhos,
Sentiremos que nossa roupa incomodará, lógico,
A simplicidade de tudo que é natural demanda um naturalismo fogoso, necessário
Para que cada linha de amor, cravada em nossa memória, seja importante,
E nos beijaremos, perceberemos na noite a angústia dos seres solitários que não amam,
Você, no entanto, será a face maravilhosa de tudo que já dizemos,
E não haverá como saírem das cinzas tantas valentias que cultivávamos,
No cimo da troca, nossa música entoará mais forte, o suor,
O brinde à ternura tantas vezes contida de te possuir sem pressa,
Te possuir como a criança possui o mais intrépido sonho pelo futuro,
Como a diversão possui efetivamente a graça imorredoura do carnaval,
Te levar, quem sabe, para a plena canção da altura máxima,
Que jamais atingiremos, e estaremos plenamente satisfeitos, a sós, nus,
Exaustos,
Tocados de tranquilidade,
Tontos de mocidade,
E você entrará numa paz tão comovida, dormente, que não ousarei te olhar,
De tão linda,
Ah, se a poesia me desse essa canção, essa linha,
Que, felizmente, jamais serei eu capaz de escrever!
*Título extraído de um capítulo do romance Largo do Desterro , de Josué Montello, onde figuram dois personagens que protagonizam o ponto alto do romance.