Intermédio Erótico**

No cimo da noite, durante nossas horas preferidas,

Estenderemos, ambos, nossas mãos às carícias certas,

Que nos fazem respirar com mais calma, embora o peito sinta a necessidade

Do verso branco de nossos sonhos,

Sentiremos que nossa roupa incomodará, lógico,

A simplicidade de tudo que é natural demanda um naturalismo fogoso, necessário

Para que cada linha de amor, cravada em nossa memória, seja importante,

E nos beijaremos, perceberemos na noite a angústia dos seres solitários que não amam,

Você, no entanto, será a face maravilhosa de tudo que já dizemos,

E não haverá como saírem das cinzas tantas valentias que cultivávamos,

No cimo da troca, nossa música entoará mais forte, o suor,

O brinde à ternura tantas vezes contida de te possuir sem pressa,

Te possuir como a criança possui o mais intrépido sonho pelo futuro,

Como a diversão possui efetivamente a graça imorredoura do carnaval,

Te levar, quem sabe, para a plena canção da altura máxima,

Que jamais atingiremos, e estaremos plenamente satisfeitos, a sós, nus,

Exaustos,

Tocados de tranquilidade,

Tontos de mocidade,

E você entrará numa paz tão comovida, dormente, que não ousarei te olhar,

De tão linda,

Ah, se a poesia me desse essa canção, essa linha,

Que, felizmente, jamais serei eu capaz de escrever!

*Título extraído de um capítulo do romance Largo do Desterro , de Josué Montello, onde figuram dois personagens que protagonizam o ponto alto do romance.

J Luiz
Enviado por J Luiz em 01/07/2014
Código do texto: T4866230
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