CORAÇÕES AMANTES E AMIGOS
Em princípio era apenas uma amizade escolar, livre, sincera e manifestamente despretensiosa. Nenhum outro interesse tinha a não ser dividir ou trocarmos os nossos lanches na hora do recreio.
Um pedaço de pão de coco, uma rosquinha caseira, a metade de um pão com mortadela, um bolo de fubá e tantas outras guloseimas que a gente conseguia levar naqueles baús feitos de tiras de madeiras aparadas e plainadas manualmente, envernizada e amarelada. Nossa! Nesses baús cabia tudo. Tinha garotos que neles carregavam bolinhas de gude e estilingue.
Nos anos que se seguiram essa amizade ganhou uma força maior, um nível de compreensão mais adulto, não obstante ainda desprendido de outros sentimentos mais agudos, como os do coração.
Já na universidade, quando nos separamos definitivamente por forças das circunstâncias percebemos, uma vez distantes, que éramos carentes um do outro. Aquele sentimento de amizade e de amor já não era apenas fraternal. A separação nos mostrava o quanto estávamos espiritualmente envolvidos e sem saber.
No nosso reencontro que não foi casual, mas por nós previamente bem planejado, a necessidade de um contato físico foi inevitável. Abraçamo-nos e nos beijamos como dois seres pagãos desesperados querendo em um só minuto recuperar tudo quanto não fizemos durante tantos anos juntos.
Na sequência veio a conjunção carnal com muita troca de carinhos e a consagração do nosso amor se fez. E desta forma os nossos corações permanecem amigos.