A falta do céu azul, do sol quente, mas não ardente, das praias de areias brancas, dos peixes em abundância para a pesca, do verde exuberante da Mata Atlântica, da água da bica, dos mergulhos no costão da Toca do Mero, da pescaria artesanal em canoas feitas por caiçaras, das Tainhas assadas com farinha de mandioca no café da manhã ou do pirão de Tainha com banana verde (Azul Marinho) no almoço, das partidas de futebol do meu clube mais amado CRES (Clube Recreativo Esportivo Sebastianense) e claro, da minha cidade natal eu tenho compensado com poemas. Desta forma saio deste amontoado de concreto e asfalto e vou a São Sebastião-SP com as imagens mais lindas da minha vida.                 



 
SAUDADES

                              Recostado no cate da antiga cama eu via pela fresta da janela entreaberta um colibri tranqüilo sugando o néctar das flores do xaxim pendurado na varanda.
                              No quintal um Sabiá Laranjeira cantava o  seu canto triste, mas continuadamente sem interrupção para quem quisesse ouvir.
                              Na rua, lado de entrada do casebre alguns cachorros latiam e uivavam como que a pedir à cadela ali no cio o escolhesse individualmente para o coito da procriação, fazendo assim pequena algazarra.
                              O sol já estava alto e por inteiro com os seus raios iluminando mais um daqueles dias de verão entre nove e dez horas da manhã.
                              Diante desse quadro, pitoresco se não fosse triste, não só uma, mas muitas saudades invadiram-me a alma e pensamentos.
                              Saudade do tempo em que eu e a minha amada ficávamos ali naquela cama até altas horas do dia vivendo um amor sem fronteiras.
                              Saudade não somente do canto de um Sabiá Laranjeira tão solitário quanto eu, mas de muitos outros pássaros como Rolinhas, Juritis, Canários, Curiós, Pintassilgos, etc. que ali vinham buscar seus alimentos fartos.
                              Saudade do som intermitente, mas sadio e gostoso de ouvir, das rodas dos carros de bois que por aquelas paragens circulavam naturalmente sem a concorrência dessas buzinas que atualmente somos obrigados a ouvir diuturnamente.
                              Saudade das pamonhas, curau, bolos, canjicas e muitos outros quitutes derivados do milho que naquele sítio era cultivado e beneficiado.
                              Saudade de levantar-se um pouco mais cedo e ir até a praia que estava bem próxima, coisa de quinhentos ou seiscentos metros de distância, caçar siris, camarões, tamburutacas e outros crustáceos como Guaiá e curtir a praia de areias brancas, simplesmente andando e catando conchinhas.
                              Saudade da revoada das andorinhas e andurões e da sinfonia desordenada dos pardais em círculo buscando abrigo ao cair da tarde para o anoitecer.
                              Saudade dos conselhos certeiros e amorosos do meu pai e da minha mãe, sempre atentos ao menor problema que surgisse e que pudesse ser ruim para mim e os meus irmãos. Eles se preocupavam por algum deslize que cometêssemos mesmo involuntários.     
                              Saudades. Infinitas saudades de quase tudo é o que eu sinto. Divago e viajo mundo afora até o infinito. No entanto sinto-me feliz, ainda que com saudades. Sou um homem realizado e privilegiado. O amor há tempos me desabrochou e está em mim.