PERFUME DE CAMÉLIAS

(Balé trágico em um Ato)

 

 


Cena I – Leito de Amor e Morte (Prazer e Dor)!
 
(Leia normalmente ao iniciar a música e mantenha o ritmo. Para maiores informações, leia a nota sobre o áudio mais abaixo, ao fim do Poema).
 
A alcova escura esconde
Nas penumbras a penteadeira
Ao estilo Pompadour,
Mas nela se vê outra Cortesã!
 
Ao som dos primeiros
Violinos a luz de foco revela
O leito antes concupiscente
E pago pela aristocracia
E burguesia emergente,
Agora redimido
– pelo amor purificado –
E entregue à enfermidade!
 
Prostrada sobre ele Margarida
Sente sua vida ser expelida
Em gotas escarlates a cada tosse,
E por vezes pensa que é apenas
Seu coração que dói e sangra
– dá seus últimos suspiros!
 
A bela camélia
Do Jardim da Pureza
Extraviada, caída
No Jardim das Delícias,
Perdida entre o luxo e a luxúria,
Havia sido encontrada
Por Armando, o cristalino solitário
Onde a dama passou a habitar!
 
Tamanho amor purificou
O vermelho apaixonante
Da flor para o branco amoroso
Das virtudes de modo que foi
Secretamente convencida
A abandonar o solitário a fim
De proteger sua reputação
– supremo sacrifício!
 
Agora, perdida no jardim
Do seu passado, perdida
Em meio à doença, à dor
E ao desespero, se perde
Na leitura das cartas
Espalhadas pelo leito!
 
Uma – a mais inesperada –
Pede perdão pelo sacrifício
Exigido e diz que o filho
– seu amado – saberá
Toda a verdade sobre
O inesperado abandono
E ao seu encontro irá!
 
Ditosa e esperançosa
– eufórica – se perde
A Dama das Camélias
Em pensamentos,
Mergulha nas lembranças
E vive um sonho: surge
Da escuridão o seu amado
Em passos leves e deslizantes,
Como da primeira vez
Que entrou naquela alcova!
 
Ao pé da cama ajoelha
Suplicante e ao se declarar,
Recebe a camélia nívea
Que escondida entre os seios
Sentia a respiração oprimida!
 
O coração para
E tudo se apaga
Em uma breve
Pausa de silêncio...
 
 
Cena II – O Baile da Alcova.
 
(Leia um pouco mais rápido ao iniciar a música e mantenha o ritmo.).
 
No recinto escuro e amplo,
Luzes de foco acendem
Sobre o casal enquanto
Os contrabaixos e os segundos
Violinos insinuam uma Valsa
Em compasso quaternário.
 
Em Révérence, do centro
Armando estende a flor
Com a cor de um novo dia,
Em um convite para a dança.
 
Margarida se levanta
E vai ao seu encontro
Em Pas de Valse.
 
Os dedos se entrelaçam
Junto aos corpos e os olhos
Se desejam ao iniciar
O Pas de Deux em Adagio!  
 
As cordas fazem ressoar
Toda a ternura do tema
Onírico de amor
Que ao casal embala!
 
A dama exibe a beleza
Das variações dos passos,
Seguida com graça
Por seu Danseur Noble!
 
Os violoncelos alertam
A presença do Corpo de Baile
Ricamente trajado que surge
E a tudo clareia, dançando
E revelando o romance
Proibido e escandaloso!
 
Margarida constrangida
Foge dos braços de seu amado
Em Pas de Bourrée Couru!
 
Hesita mas não resiste
Aos encantos do jovem,
E por fim se entrega
Ao amor e ao baile
Junto aos violoncelos!
 
O casal em foco
Se esquece de todos,
Que voltam à escuridão
Deixando-os a sós!
 
Arcos e dedos deslizam
Sobre as cordas dos violinos
Junto aos pés dos amantes!
 
O breu faz o coração vibrar
Junto às cordas em cadências
Que lembram os suspiros e a leveza
Do peito em queda livre!
 
Conseguiram perturbar
Sua alegria, mas com os passos
Em Allegro Margarida tenta viver
A felicidade de sonhar acordada!
 
Trinados como cantos
De pássaros embalam
O cortejo e convidam
Aos pequenos saltos
E entrecruzar das belas
Pernas no Entrechat Deux!
 
Ela sente as mãos
Firmes na cintura
Para um Promenade
Que a fazia sentir-se
Uma Bailarina a girar
Em uma pequena
Caixa de Música!
 
Armando em giros dá voltas
Solo pela alcova. Margarida
Aprecia o Tour Piqué en Dedans
Quando vê o pai do amado
Surgir da escuridão em passos
Lépidos e a se jogar aos seus pés,
Em súplica sincera e persuasiva!
 
Abrumada vê o jovem
Desaparecer na escuridão,
Seguido pelo honrado
E bondoso progenitor!
 
Desesperada se perde
A dama em meio
Ao Corpo de Baile
Que traz a festa
Junto ao rejeitado
E odiado Conde
Para se tornar seu par
E amante – dança inquieta,
olhando para os lados!
 
Entra Armando em passos
Impetuosos e empurra
O Conde desafiando-o
Para um duelo, mas é contido
Pelos amigos e se vai
Em passos ligeiros e arrastados,
Jurando se vingar da vil traição!
 
Tudo escurece
E todos desaparecem.
A luz focaliza a pobre
Dama em lágrimas,
Solitária na alcova.
 
Da escuridão surge o pai
Que envia o filho com uma carta;
A meio caminho o Canhão Seguidor
Apaga e ao acender revela
Um mensageiro que do centro vai
Até Margarida e lhe entrega a carta.
 
Alegre e esperançosa abraça
O papel para suavemente deitar
Em seu leito junto aos últimos
Acordes que a despertam
De seu confuso sonho em vigília!
 
Mas um silêncio perturbador
Preenche o ambiente
Que escurece lentamente,
E o temor furta o sorriso!
 
Ela teme seu derradeiro
Suspiro de amor exalar
– pela última vez suspirar
clamando por Armando!
 
Ela vê a Morte aos pés
De sua cama a lhe oferecer
Uma camélia branca manchada
Com vermelho sangue
– como o fez seu amado no passado –
Em um cavalheiresco e indeclinável
Convite para uma última dança!
 
A Morte anseia coroá-la
Com camélias, mas ela rejeita
A coroa e seu perfume funeral
– quanto tempo resistirá
aos encantos tétricos
de seu novo pretendente?
 
Lentamente desvanece
A flor lívida a se perder
Na fria escuridão,
como se os seus olhos
Grandes e oblíquos
Estivessem a escurecer!
 
Em lágrimas silenciosas descansa
A Dama das Camélias com a carta
Abraçada ao seio cálido e pleno
– de esperanças e medos...
 
 
Finale – Um Respeitoso Silêncio a Ser Lido no Libreto.
 
Que Verdi e o filho de Dumas
Me perdoem pelo uso do real
E do fictício; por usar suas vidas
Retratadas na ficção; por falar
De suas flores e de suas dores!
 
Bem sabe o Escritor
O que é dividir o amor
De uma Cortesã com outros;
E quem pode culpar a Verdi
Por tamanha identificação
Com o romance dramatizado?
Bem sabe ele como foi viver
Seu grande amor em meio
À moralidade e aos preconceitos
De uma França do Séc. XIX!
 
A doce flor alta e esguia,
De madeixas imersas
Em penumbra e lábios de cereja,
Despertava o pensamento frutado
E o desejo por seu suco, e por isso
Tinha as aveludadas pétalas
Brancas manchadas com algo
Mais que o sangue
Que sua boca expelia!
 
A cortesã era um mistério:
Suas atitudes diziam
O que seu coração não sentia
E o que sua mente calava,
Mas ao final alcançou
A acepção das flores!
 
Como Violeta alcançou
A lealdade, a modéstia
E o amor que dá sentido
À fertilidade – amor-perfeito!
 
Como a bela Margarida
Bellis Perennis
Era os “olhos do dia”
Que seduziam a todos
Que lhe davam pérolas
Por sua suculenta ostra,
Mas com o tempo o amor
A fechou até formar a preciosa
E legítima pérola da inocência!
 
Como Dama das Camélias
Possuía a beleza perfeita
E a sensibilidade que a fazia
Manchar e escurecer a cada
Toque, mas ao final o amor
A ensinou a preservar
A pureza das pétalas
– quiçá Deus lhe conceda
o perdão que a sociedade
sempre negou com crueldade!
 
Margarida era Violeta para Verdi
E Maria Duplessis para Dumas
(filho), mas para o mundo será
Sempre a Dama das Camélias!
 
Deixo aqui as imortais
Palavras do Escritor:
“Um pouco de amor
Devolve a toda mulher
A inocência perdida!”
 
Julia Lopez

23/11/2013
 
(Para reler o Poema, atualize essa página da internet a fim de tocar novamente a música.).


 

 

 

IMPORTANTE NOTA SOBRE O ÁUDIO: É imprescindível que o Poema seja lido junto com a música, seguindo as indicações entre parênteses e mantendo um ritmo constante de leitura. Caso decida ler em voz alta, deve ignorar as indicações e ler em velocidade normal, naturalmente, pois assim obterá a velocidade ideal de leitura para o Poema (a leitura em voz alta é interessante para essa combinação entre Balé e Poesia, pois permite sentir melhor a combinação entre o texto e a melodia). Mesmo assim, cada pessoa tem sua forma e ritmo de leitura, então é normal que termine um pouco antes ou um pouco depois do final de cada cena. No entanto, respeitando pacientemente as pausas entre as cenas (que já existiam na música e apenas foram um pouco estendidas), cada um poderá ler o Poema de forma sincronizada com a coreografia insinuada, com as pequenas descrições cenográficas e com a música tocada, que é o Prelúdio do Ato I da Ópera La Traviata, de Giuseppe Verdi. A grande pausa inicial foi inserida para que haja tempo de carregar a página da internet corretamente, independente da velocidade de conexão, e para que a imagem possa ser apreciada antes do início da leitura (foi concebida como o cartaz do balé). Para reler o Poema, atualize essa página da internet a fim de tocar novamente a música, pois há uma grande pausa no final da música que faz com que demore para ela voltar a ser tocada sozinha.
 
Note que cada Cena tem indicações de velocidade de leitura diferentes, de acordo com a combinação entre a música e os acontecimentos descritos (lembrando que para leitura em voz alta essas indicações devem ser desconsideradas).
 
Note que a parte Finale foi concebida para leitura sem fundo musical, ao contrário das cenas I e II.
 

Os que acessarem a página do Poema pelo Recanto das Letras não conseguirão ouvir o áudio, então peço que o leiam no meu Site do Escritor clicando aqui: http://www.escrevendobelasartes.com/visualizar.php?idt=4588286 .

 
Montagem: edição do cartaz do bailado “Moulin Rouge: The Ballet”, apresentado pelo Pittsburgh Ballet Theatre.

Julia Lopez
Enviado por Julia Lopez em 26/11/2013
Reeditado em 10/01/2024
Código do texto: T4588286
Classificação de conteúdo: seguro
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