BAILE DE MÁSCARAS

(Balé húngaro em um Ato)

 

 


Cena I – Tempo di Valse
 

 

 

(Leia pausadamente ao iniciar a música e mantenha o ritmo. Para maiores informações, leia a nota sobre o áudio mais abaixo, ao fim do Poema).
 

Na projeção elipsoidal
Do gobo de vidro,
Vê-se do alto a Budapeste
Imperial do Romantismo
Cortada pelo Danúbio azul
De Strauss, mas a noite
Não brilha para o Compositor
E suas famosas valsas!

 
Da mansão aristocrata
Na Avenida Andrássy,
Ouve-se o Romantismo
Nos acordes de cordas
De um boêmio Compositor.
Sua alegre Serenata noturna
Aviva a luxuosa festa e convida
A todos para a Valsa que se inicia!
 
Damas e cavalheiros cruzam
O Salão de Baile em passos
Leves na troca de olhares.
O pudor e o recato se escondem
Sob as máscaras que revelam
Os olhares ávidos
De cobiça e desejo,
Amor e paixão!
 
Suspiros prenúncios dos corações
E dos espartilhos desfalecentes
Preenchem de emoção ao salão
Cheio e resplandecente
Por onde ressoam descompassados
Em meio aos compassos
Harmoniosos e simples
Do compasso ternário!
 
Os olhares cavalheirescos
Encontram a leveza,
A graça e a elegância
Nos deslumbrantes vestidos,
Nas elaboradas máscaras
E nos sedutores penteados!  
 
Os delicados e longos olhares
Cintilantes de cílios arqueados
Encontram a nobreza e o porte
Dos varões mascarados!
 

Os que se desejam ou amam,
Se reconhecem pelo olhar!
Aproximam-se os pares
Em Pas de Valse
E graciosamente se curvam
Em Révérence antes
Das sucessivas voltas
À vienense pelo salão
Imponente, avivando o baile
E o seio da realeza! 

 
Os varões, que a tudo sempre
Ocultam sob suas máscaras
E discretos trajes aristocratas,
Parecem todos impecavelmente
Iguais, não se atrevendo a furtar
A atenção das belas damas
De um tempo fausto
Em que a Belle Époque
Desfila de mãos dadas
Com a Era Vitoriana!
 
Apagados e ofuscados,
Veem com encanto o salão
Adornado com suas rutilantes
Joias da Coroa Austro-Húngara
Que dançam vestidas
Com todo o luxo que suas coroas
Austro-Húngaras podem comprar!
 
O corpo de baile esmaece
E o Canhão Seguidor
Luminosamente dispara
Os olhares sobre um casal
Em foco por sua escandalosa
Cumplicidade na troca de olhares,
Risos e cochichos que tentam
Disfarçar em meio à dança
(assim como suas identidades
sob as coruscantes máscaras),
Mas a paixão proibida
Entre a Baronesa húngara
E o Arquiduque começa
A transparecer, e o amor
Incomoda a Casa de Habsburgo!
 
Acordes vigorosos
E tão bem executados
Como se fossem regidos
Pelo próprio Dvorák
Finalizam a primeira parte
Da Valsa, seguidos
De uma pequena pausa!
 
Enquanto tudo escurece
E todos se detêm com graça,
Brilha sob a luz de foco o casal!
 
 
Cena II – A Lírica do Romantismo.
 
(Leia pausadamente ao iniciar a música e mantenha o ritmo.).
 

Os compassos mais lentos
E suaves da Valsa tem início,
Convidando-os ao romance!
 
O Príncipe-herdeiro mergulha
Na profundidade oceânica
Dos olhos imersos
Sob a máscara da Baronesa
– que não escreveu “Rodolfo”
em seu prateado Cartão de Dança,
mas secretamente em seu coração –
E como um redemoinho
Giram quase em Adagio
Sem desviarem o olhar!
 
De tão imersos já não percebem
O corpo de baile ao seu redor,
E além da luz de foco nada se vê
– em seu universo quimérico
e onírico, já não estão mais ali!
 
Já não existe a estrita etiqueta,
Nem a esposa de um casamento
Arranjado e infeliz, e ela já não é mais
Sua amante! Nada mais é inapropriado
Ou proibido; já não há falta de recato
– escrevem um Poema de amor
ao deslizarem em suaves passos!
 
Maria de Vetsera sente
Que vai desfalecer e vê
O salão escuro girar
Vertiginosamente,
Então percebe que ela
É quem gira com o corpo
Jogado para trás enquanto
Rodolfo de Habsburgo
A acompanha segurando-a
Pela cintura fina e modelada
Pelo doloroso espartilho,
Como se dançassem
Em uma pequena
Caixa de Música!
 
Ela sente as duas mãos
Tocarem sua cintura
Esguia enquanto gira
Em Pirouette e termina
De costas para ele,
Mostrando aplomb
Na quarta posição!
 
Ele abraça seu ventre
E ela envolve seus braços
Com o antebraço direito
Enquanto acaricia sua nuca
Com a mão esquerda,
Inclinando a face bela
E nívea para a direita,
Deixando exposto o colo
Cálido e a delicada orelha,
Em um convite ao beijo!
 
Sente as caricias dos lábios
E o roçar das maçãs
– um frêmito de pecado
percorre seu corpo
de desejo e tentação!
(pausa)
 
 
Cena III – Olhos Repressores.
 
(Leia mais rápido que o normal ao iniciar a música e mantenha o ritmo).
 
Os corações palpitam
Descompassados enquanto
Os compassos da Valsa
Anunciam dissonâncias
E conflitantes quebras de harmonia!
 
A felicidade e o escândalo
Em uníssono duraram pouco
– apenas eternos instantes
para aqueles que se amam!
 
O sonho se esvai
E o salão começa
A clarear com os pares
Ressurgindo um a um
À vienense em meio
A murmúrios indignados
E olhares de reprovação!
 
Rodolfo sente os olhos
De seu pai ao ver
Sua guarda mascarada
Se aproximar discretamente,
E vai de encontro a eles
Para enviá-los de volta!
 
Ao regressar, já não vê
Maria e sente o peito
Forte e descompassado!
 
Acordes agressivos
E passionais anunciam
O conflito! Lívido procura
Por ela – o coração já não sente –
E a encontra junto aos vigilantes
Mascarados, na saída do salão;
Os empurra e discretamente
Os ameaça com sua autoridade real!
 
Maria derrama lágrimas pávidas!
Engana-se a plebe ao pensar
Que toda a realeza desfruta
De dinheiro ou felicidade!
A jovem Baronesa
Sem coroas ou prestígio
Sente sua vida ameaçada!
 
Ele se lembra das missivas
De amor trocadas e promete
Que o mundo será apenas deles,
Na vida ou na morte – na eternidade –
Como Cleópatra e Marco Antônio,
Ou como na correspondente
Tragédia de Shakespeare!
 
A harmonia dos violinos,
Violoncelos e Violas
Comove e envolve a ambiência!
O som agudo e friccionado
Penetra o coração doído
E derrama águas-marinhas
Lapidadas em gotas que resvalam
Sob a máscara cravejada
De homem forte e imponente!
(pausa)
 
 
Cena IV – A Alegria que Precede o Luto.
 
(Leia com rapidez ao iniciar a música e mantenha o ritmo).
 

De volta ao baile,
Todos os casais dançam
Alegremente e oferecem
Um espetáculo inspirado
Na bela moda vitoriana! 

 
Tremulam as plumas
Das máscaras cravejadas,
Aumentando o mistério
E a sedução! Em voltas
Pelo salão iluminado
Os penteados fascinam
E expõem o colo sedutor!
 
Os longos vestidos esvoaçam
Drapeados e expõem as rendas
Que enredam e rendem a todos;
Em camadas os babados
Inundam as bocas entreabertas
E sedentas que emudecem
De desejo; a anquinha
Protuberante forma a cauda
Em laços que enlaçam
E arrastam aos varões;
Impressiona a variedade
E beleza que lembram
As encantadoras aves de cortejo
– algumas, aves-do-paraíso,
outras, aves pavoninas!
 
As mãos trêmulas
Se tocam em sucessivas
Voltas à vienense!  
 
A ruiva boneca de porcelana
Gira suavemente sob a mão
Esquerda do seu amado
E se detém máscara a máscara!
 
Em seus olhos safíricos
Rodolfo vê a si mesmo
Profundamente e se lembra
Daquele menino brutalizado
Pelo pai rigoroso e afortunado
Que se casou por amor; lembra
Da sensibilidade alimentada
Pelo amoroso seio materno!
 
Pensa no matrimônio protocolar
E infausto com a Arquiduquesa
Estefânia da Bélgica – a bela
herdeira do trono da Áustria –
Que o impede de ser feliz
Com sua amada Baronesa!
 
Vê com desgosto os ideais de seu pai
Incrustados na coroa da Princesa,
Pois o Príncipe é liberal e com paixão
Defende os nacionalistas húngaros!
 
Apaixonado por sua húngara,
Dança os últimos compassos
Da Valsa enquanto se inclina
E durante o silêncio sonha
Com um fausto relacionamento,
Mas Goethe evoca sentimentos
E pensamentos sombrios, pois
Os Sofrimentos do Jovem Werther
Deixou profundas marcas
Em seu âmago jovem e apaixonado!
 
Tudo escurece, e por último
A luz sobre o casal se apaga,
Prenunciando o triste

 
FIM!

 
Julia Lopez

10/11/2013
 
(Para reler o Poema, atualize essa página da internet a fim de tocar novamente a música.).

 

IMPORTANTE NOTA SOBRE O ÁUDIO: É imprescindível que o Poema seja lido junto com a música, seguindo as indicações entre parênteses e mantendo um ritmo constante de leitura. Caso decida ler em voz alta, deve ignorar as indicações e ler em velocidade normal, naturalmente, pois assim obterá a velocidade ideal de leitura para o Poema (a leitura em voz alta é interessante para essa combinação entre Balé e Poesia, pois permite sentir melhor a combinação entre o texto e a melodia). Mesmo assim, cada pessoa tem sua forma e ritmo de leitura, então é normal que termine um pouco antes ou um pouco depois do final de cada cena. No entanto, respeitando pacientemente as pausas entre as cenas (que já existiam na música e apenas foram um pouco estendidas), cada um poderá ler o Poema de forma sincronizada com a coreografia insinuada, com as pequenas descrições cenográficas e com a música tocada, que é o 2° Movimento (Tempo di Valse) da Serenata para Cordas em Mi Maior, Opus 22, de Antonín Dvorák. A grande pausa inicial foi inserida para que haja tempo de carregar a página da internet corretamente, independente da velocidade de conexão, e para que a imagem possa ser apreciada antes do início da leitura (foi concebida como o cartaz do balé). Para reler o Poema, atualize essa página da internet a fim de tocar novamente a música, pois há uma grande pausa no final da música que faz com que demore para ela voltar a ser tocada sozinha.
 
Note que cada Cena tem indicações de velocidade de leitura diferentes, de acordo com a combinação entre a música e os acontecimentos descritos (lembrando que para leitura em voz alta essas indicações devem ser desconsideradas).
 
Na Cena I a Valsa inicia alegre, mas os personagens começam a se conhecer/reconhecer e aos poucos passam à dança, então a leitura é pausada, porém não lenta.
 
Na Cena II o casal dança suavemente um trecho mais lento da Valsa, bem lírico, romântico e onírico, então a leitura continua pausada, mas ainda assim, não lenta.
 
Na Cena III há tensão, conflito, agitação, perigo; a leitura deve ser mais rápida que o normal, mais intensa, mas não muito rápida.
 
Na Cena IV todos continuam a dançar a Valsa do início do Balé, então estão animados e alegres; a leitura deve ser rápida e animada, intensa, mas ao final o silêncio acompanha os pensamentos sombrios e sugere luto, pedindo uma diminuição de ritmo para o final do Ato nos últimos versos do Poema! 


Os que acessarem a página do Poema pelo Recanto das Letras não conseguirão ouvir o áudio, então peço que o leiam no meu Site do Escritor clicando aqui: http://www.escrevendobelasartes.com/visualizar.php?idt=4566897 
 
Montagem: edição da foto de Maria Vetsera tirada em 1889 no Ateliê Adele por Adele Perlmutter (1845–1941), inserida sobre um wallpaper da internet.

Julia Lopez
Enviado por Julia Lopez em 11/11/2013
Reeditado em 10/01/2024
Código do texto: T4566897
Classificação de conteúdo: seguro
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