Fim de expediente
Corre pra casa, amor
Que a rua está perigosa,
A vida anda difícil
Tem bandidos, tem horror
Há polícia, manifestantes
Idiotas, debutantes
Palhaço, poeta e ator
Há prefeito, vereador
Tem de tudo nessa rua...
Tem médico,
Tem até professor
Só não tem governador
Nem presidente, ou senador
Ah, muito menos deputado.
Estão todos escondidos
Em gabinetes no Senado
Nem aí pro que há de nós
Vem pra casa, amor
Que aqui, é a gente que importa
A sensação de fechar a porta
E aliviar nosso cansaço
Enquanto os jornalistas
As prostitutas, os humoristas
Disputam queda de braço
Pra saber quem tem razão.
Enquanto isso o povão,
Dança um funk sossegado
Pra desgosto meu e seu,
Num alto falante potente
Com luz de gato ligado
Do poste da vizinhança.
Vem, vem pra casa
Pra gente jantar e dormir
E tentar descobrir um jeito
De viver com mais respeito
Do que eles dão pra nós...
Pelo menos por enquanto,
Ainda estamos a sós.
Pelo menos por enquanto.