INCERTEZAS
 
 
                         Os minutos se transformavam em longas horas. E quanto mais nós corríamos da dor e da tristeza, mais e mais elas nos acercavam e nos prendiam num emaranhado pior do que teias de aranhas.
                    Os nossos pés saiam do chão como que por encanto. Extasiados olhávamos um para o outro sem nada ver. Parecia que tudo girava ao nosso redor.
                    Mesmo assim atento e previdente ali eu permanecia calado. O momento não era adequado para conjecturas e muito menos para justificativas, ainda que fundadas, brigas ou discórdias.
                    Afinal, quando um não quer, dois não brigam. Esse dito popular é por demais certo e coerente. A tolerância, compreensão e vigília sim, se faziam necessárias para atenuar os ânimos diante de tantas incertezas.
                    Perdemos totalmente a noção do tempo e da vida face ao nosso descontrole sem nem sequer perceber o negrume da noite e o clarão do dia que se repetiram seguidamente.
                    Várias vezes nos tocamos instintivamente buscando algo palpável e concreto para certificarmos de que vivíamos um mundo real ou um sonho absurdo.
                    Em movimento, num desses raros momentos de lucidez percebemos que estávamos entrelaçados e nos beijávamos loucamente suplicando recíprocos perdões.