ASSIM COMEÇOU O NOSSO AMOR
 
 
 
                     O aconchego daquela palhoça incrustada entre a mata virgem e o regato de águas límpidas que caiam cantando da cascata tornava o ambiente mais do que convidativo e capaz de mudar o rumo dos acontecimentos, acelerando o coração mesmo de um caboclo chocho como o meu, e torna-lo suscetível de grandes emoções.
                    Cego, surdo e mudo, ingênuo e sem noção, eu sequer imaginava que era esperado.
                    Pensei que aquele ranger de dentes e a tremedeira advinham da neve gelada que forrava o chão. Pensei que era frio que ela sentia.
                    Quis a agasalhar com um mantéu de
 seguilha que nem era meu. O apanhara emprestado.
                    Isto por que não me sentia confortável vendo-a tiritano tanto.
                  Mas enganei-me. Ela estava até muito bem agasalhada e confortavelmente instalada.
                   Eu fui quem não tive a sensibilidade de perceber o que ali se passava.
                   Que aquele tiritar era pelo nervosismo e ansiedade, na espera de ser abraçada e aquecida com o meu corpo. Na espera de ser beijada e amada com sofreguidão e constância.
                    Por isso, sem saber como e nem por que, somente entreguei-me aos desejos múltiplos de dois seres que se queriam e não poderiam perder mais tempo.
                    Assim começou o nosso amor.