Cavalo doido

Eu queria um amor que me trouxesse
a paz do campo ao entardecer.
Buscava esse amor sem pressa
mas persistente, na certeza de encontrar.

Esperava encontrar alguém
em algum ponto do meu caminho,
que, por gostar de versos bárbaros
e de olhar o céu em noites claras,
resolvesse me acompanhar.

Ela me daria a mão, sorrindo,
depois seus beijos,
ternamente entregando-se,
apaixonada ao meu amor.

E eu seria dela, o namorado,
o companheiro carinhoso
e o amante mais gentil.

Mas um dia, surgiu você,
arrogante, impertinente e linda,
que só olhava o céu
em noites de tempestade
e achava poesia uma tolice.

Mas bastou um sorriso e um aceno.
Mudei o norte do meu caminho
e corri alegre para os seus braços.

Senti minha boca mordida
na sua ânsia febril de fêmea carente.
Entre gritos roucos fui o seu lobo,
amante fogoso, centelhas no olhar.

Você invadiu a minha vida
rindo de minhas fantasias,
quebrando meus tabus.
Despertou em meu peito
um amor tão louco
que eu nem sabia existir.

Não.
Não era este o amor esperado.

Este amor é um cavalo doido
que me leva, desembestado,
pelos campos da paixão.

E agora já não quero
a paz bucólica dos campos
em longas tardes estivais.

Só preciso do rebuliço
de viver em desatino,
ir de encontro à sua boca ávida,
perder-me em seu corpo fremente
reconquistando-o todo dia com ardor.

E ao tê-la em meus braços, submissa,
me iludo que a possuo.
Vou fingindo que não sei
que sendo o seu homem, seu amor,
seu amante, sou, antes de tudo,
essencialmente,
seu.


Paulo Cid
Enviado por Paulo Cid em 09/02/2013
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