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Confissão 

Já usei ternos escuros
e calcei cromo alemão,
gravatas de listas oblíquas,
relógio de ouro no pulso,
anel de pedra na mão.
Mas tudo era peso inútil,
amarras na imaginação.
 
Preferi sentir o sol na pele,
o vento, a chuva, a terra,
usando roupa leve e clara,
sandálias ou pés no chão,
um cordão de sementes coloridas,
e um riso perene no olhar.
 
Já andei reto pisando firme
o chão duro de caminhos seguros
e até achei que isto foi bom.
Mas gostei de brincar com pardais
e colibris, de flor em flor,
andar nas nuvens da fantasia,
viajar no tempo da ilusão.
 
Já tive amores centrados,
previsíveis e bem comportados,
sexo em dias marcados
no mesmo lado da cama.
 
Mas preferi o amor desatino
de uma louca risonha e feliz,
na cama, na praia ou num barco,
sem relógio e sem calendário.
 
Já tive planos de vida,
agendas, seguros, diplomas.
Comprei casa, carro e sorrisos
e até um jazigo perpétuo.
 
Hoje vivo solto no mundo.
Não sei onde estarei amanhã.
Carrego na alma tudo que conta,
que ninguém poderá me tirar.
 
E esta bagagem tão leve
é tudo que preciso levar
na derradeira viagem
até o lado de lá.