JUNTO DELA

Descobri que era amor

quando a ânsia pela luz daquele olhar

ofuscava até o esplendor do mais belo luar...

Quando o sofrimento constante da saudade era muito pior

do que qualquer falta, era aperto sem piedade nem dó...

Descobri que era amor

quando vi nos armazéns das múltiplas redes da memória,

em meio a bilhões de dados, pessoas, lembranças e histórias,

todas as palavras, todos os gestos, todos os momentos e cenas

em que ela brilhava, em que ela era a protagonista e estrela...

E mesmo mínimos detalhes não tinham sido esquecidos,

estavam lá, tão sorridentes, aconchegantes e altivos,

imunes às distrações e lapsos do tempo com seus vírus e olvidos...

Descobri que era amor

quando me dei conta do quanto o seu sorriso, a sua alegria,

a sua contagiante energia, os inumeros jeitos com que me comovia

o simples fato de saber que ela não era ficção, que existia,

me deixavam muito mais feliz do que qualquer outra amiga,

me causavam emoções num tal grau nunca antes sentido na vida...

Descobri que era amor

quando percebi que a idéia de vê-la em qualquer perigo ou dor,

assustava-me muito além dos limites de algum familiar terror,

e que facilmente se sacrificaria meu coração ardente,

esquecendo-se de si e de seu sentimento surpreendente,

se tal fosse o preço para vê-la em paz e em vida contente...

Descobri que era amor

quando me deparei comigo mesma a procurá-la em outros laços

como criança ingênua que procura seu lar, seu sonhado abraço,

como quem tateia, como quem perde da alma um pedaço

e sai a buscá-la, sem saber direito onde nem o que faz de fato...

Descobri que era amor

ao debruçar-me sobre os medos que escondiam-me de mim,

que tentavam me proibir de sentir, em infrutífera fuga sem fim,

cheios de razão, de dedos em riste, de setas de insegurança e acusações de desvalia,

a negar-me merecimento e permissão para amá-la ainda que fosse em fantasia...

Descobri que era amor

quando ao olhar para meus anseios e sentimentos mais profundos

avistei tanta ternura, tanta beleza singela em tão sufocado mundo,

e desejos simples, muito simples, de amor, de outono, de por do sol , de orvalho

de sabores de infância, de sonhos mágicos, de chuvas coloridas, de carvalhos

e, sobretudo, de estar junto...junto dela.... ser capaz até de abrir mão do resto

para estar junto dela e lhe dar minha porção de asa, envolvendo-a no mais colossal afeto...