RESSUREIÇÃO - REENCARNAÇÃO - RENASCIMENTO trilogia de sonetos
RESSUREIÇÃO
Achei que, se eu sorvesse esse veneno
Até que a última gota me matasse,
Não sofreria mais tamanho impasse,
Repousaria num dormir sereno.
Mas veio um vento manso, quente e ameno
Que me enganou - como se despertasse
A fera adormecida - e prenunciasse
A tempestade em meu viver pequeno.
Achei que os mortos não sofriam mais,
Mas descobri que existe, sim, o inferno,
Onde a esperança é só desilusão.
Que triste a minha sina entre os mortais!
Se ressuscito, após um longo inverno,
No estio, só desabrocha a solidão...
REENCARNAÇÃO
Pois me chamaram lá do meu descanço
Pra, novamente, vir a amar alguém.
Eu respondi, num tom lânguido e manso:
"Deixem-me, que estou morta, mas vou bem."
Mas resolveram que inda não alcanço
A paz dos mortos que paixões não têm.
E me expulsaram do sereno além,
E me encarnaram nesse antigo ranço.
Quando eu pedi, meu Deus, pra amar de novo?
Eu já me conformara à solidão,
Acostumara-me ao falar do povo.
Pois me chamaram, e eu voltei à vida.
E inteiro foi de novo o coração,
Só pra partir-se, na mesma medida...
RENASCIMENTO
No limbo inerte, lá onde eu descansava,
Já não havia angústia, pranto ou dor.
Em paz já me deixara o torpe amor,
Onde eu jazia, ele não me alcançava.
Mas o vulcão cuspiu de novo lava,
Que me incendiou - de novo, assolador.
E renovou-se em mim todo o terror,
Tudo que há muito não me atormentava...
De novo torpe, sempre doloroso,
Mais uma vez me engana e em vão me iludo.
Renasce o amor, de novo venenoso.
Só quero repousar num sono mudo!
Voltar à morte, e misericordioso,
Seu breu fazer-me livre disso tudo!...
Conclusão em 27/08/2012