Espelho
Pelo instante tão sonhado, num lampejo,
eu vejo o sim do seu sorriso enquanto falo.
Só não vejo com clareza o seu desejo.
A incerteza me amedronta e eu me calo.
A dúvida do sonho revela o meu tormento.
O pensamento viaja rumo aos desejos seus.
Tento tocá-los, mas todos vão-se ao vento
e nesse momento eu vejo, só os desejos meus.
Talvez sejamos, de desejos, um só espelho
e seja o zelo, da distância, a maior razão.
O sonho alimenta o que o corpo deseja;
o corpo lamenta quando a mente diz, não.
E vamos os dois a percorrer mudos caminhos:
um mundo de ausências, emaranhado à ilusão.
Por lados opostos e corpos tão sozinhos,
somente a dor segue unindo essa paixão.