Bola de vidro

Era apenas uma bola de vidro

Para quê serviria?

Para deixar que o pó se abrigasse

Que os insetos ali pousassem

Esfera translúcida, com água e papel picado

Nunca serviu para nada

Por isso não recebeu lugar de destaque

Ficava em uma caixa, trancado

Uma bola de vidro, inútil

Saiu do embrulho direto para a dispensa

Foi dispensado

Um presente fútil

Vai ver nem merecia seu amor

Aquele antigo namorado

Que lhe deu naquele dia

Uma bola com papel picado

Anos mais tarde foi fazer arrumação

Nas gavetas e nas caixas

Encontrou a bola de vidro

Deixou-a cair no chão

O vidro não era cristal frágil

Rolou e não se quebrou

Dentro dela o improvável

Agitou-se e revelou

Um papel fino e delicado

Deu mil giros até que pousou

Escrito “mais forte que este vidro,

é a força do meu amor”.