DESCRENTE

DESCRENTE

Em delírios pontiagudos,

alimento besouros anômalos,

recito salmos heréticos,

faço a luz de cada dia;

nas minhas divagações me iludo

com o aparente luxo dos cetins,

vario no gargalhar da luz virgem;

nas feridas acidentais; cético,

duvido de todas certezas,

das torias e origens;

da insultante beleza

das rosas prostituidas;

asso nacos de insones vertigens;

transgrido normas pré-estabelecidas;

os sermões dos pastores bastardos,

os dogmas estigmatizantes

da fé inacabada e triste;

creio em quase nada,

leio quase tudo;

zepelins desgovernados,

chineses inconcebíveis;

um dia será passado;

e tudo seguirá a rotina,

ouvindo sinos; por sina,

vidas perecíveis,

princípio de morte,

um basta, um adeus, um corte ...

[gustavo drummond]