Não me olhes assim

Não me olhes assim novamente.

Não me olhes com esse olhar obliquo de Assis.

Não me tortures mais que meu próprio cárcere demente.

Deixe-me só! Entregue aos meus ais, pois assim o quis.

Não me olhes assim! Não me faça voltar no tempo.

No dia em que tolo fui e não relevei.

Que o amor tem suas brigas, desaventos

E quanto sofrimento, eu imbecil, causei.

Dispensei o seu amor por tão pouco...

Um momento de fúria me deixou insano.

Quis matar, morrer, quase fiquei louco.

Perdi a vida, perdi tudo, perdi meus anos.

Não me olhes assim!

Deixe-me só na tortura dessa imensa dor.

Dor de alma!

Alma ferida com arma branca de dois lados.

Dor sem remédio, sem cura.

Dor muda, sem clamor.

Dor sem tempo,

É presente, é futuro, é passado.