Os poemas da ilusão
I
Encontrei você
Encontrei meu coração
E senti imensa alegria
Como o sol a raiar no nascer do dia
Mas me aguardava grande comoção...
As folhas o vento leva
E nos jardins muitas flores nascem
Todavia por nenhuma nos apaixonamos
Se não nos cativam o coração...
E vi que você era de muitos
Muitos estava em seu coração
E vi você a brincar de ciranda
A cantar enquanto me acariciava a solidão...
O vento veio
Levou tuas folhas
E te fez secar
Mostrar tua cara
Revelar-te
E a rosa que achei que fosses
Eu a vi murchar...
II
Eu sonhei contigo
Desejei-te mais que pude
Desejei que fosses minha vida
Meu sentido e minha estrada
Mas te vi rolar pelas mãos de muitos
E então para mim tornou-te em nada...
Eu não sei ser diferente
Tudo que é de todos
Tudo que é de muita gente
Não pertence-me
Não me pode ser especial
Prefiro o carinho dos cactos
Aos das flores que a todos fazem mal,
Sim,
Pois tudo que é de todos
Não é de ninguém
E eu prefiro cair fundo
Descer fundo
A ficar a margem
Esperando as migalhas
Que possam vim de alguém...
III
O seu carinho
Deve ser prazeroso
Pois tantas abelhas a querer te beijar
E eu abelhudo casmurro
Passando por longe a olhar
Com sede de amor
Mas não desse amor
Que estás a derramar...
O amor do qual tenho sede
É forte
É como a morte,
Difícil de achar,
E quando se encontra
Não se dar mais tempo para desfrutar...
IV
Você foi...
Um sonho que se perdeu
Um espelho que se quebrou
Foi uma imagem que não me refletiu
Uma sobra que não me agradou
Um punhal que me feriu
Um frio que fez gemer minha solidão
Você foi um golpe mortal
No meu coração...