O Faxineiro

Joga água nesse chão,

Limpa forte o solo,

Se me insultam eu ignoro,

Lavo com muita paixão.

As mãos calejadas,

Segurando cabos

De vassouras, trapos,

Produtos de limpeza pesada.

Olho o céu quando faxino,

Vejo as estrelas pequeninas,

São retiradas lá de cima,

Por algum faxineiro divino.

Meu coração é comum,

Ama uma mulher,

Que não sei dizer se me quer,

Mas a busco por todo o mundo.

O sabão tira a crosta,

Desinfetante que perfuma,

Quero te oferecer o reflexo da lua,

No fundo do balde d’água que transborda.

Sou limpador de sujeira bruta,

A moral eu não toco

Com o mesmo foco,

Sigo na labuta de subalterna luta.

Passo o pano,

Enrugo as mãos,

Cloro em inalação,

Um faxineiro santo.

Esse rodo empurra a água,

Faço ondas no cimento,

Nesse embalo me movimento,

Com saudades de minha amada.

Procuro seu rosto no balde,

Mas a água já se faz turva,

Que alegria ao ver a chuva,

Lavo a alma nesse arrabalde.

Beijo gotículas de água sanitária,

Gosto tóxico que me enjoa,

No vidro que limpo procuro sua pessoa,

Mas encontro só a parede cristalizada.

Quisera limpar o coração,

Mas o amor é sujo demais,

Gruda feito lodo em quintais,

Sou sujismundo de pura paixão.

Fumo um cigarro,

A nicotina misturada

A prática higienizada,

Nem no descanso eu paro.

Corpo dolorido de limpeza,

O fardo de despoluir,

Mas me contamina seu existir,

Será minha Vênus da sujeira.

Sou um porco no chiqueiro do sentimento,

Provando da lavagem que é mistura de afetos,

Me contentando com um amor de restos,

Faxineiro que tem a latrina de Eros como provimento.

Amo nosso sexo imundo,

Sem limpezas estéreis,

Quero libidos pútridamente férteis,

Amorosamente sujos.

Que Belzebu nos abençoe,

Em uma união de enamorados,

Lixo de emocional reciclado,

Amantes imorais sem higienizadores.