Beijar e Asmar
Esse beijo,
Amável ósculo,
Que tanto desejo,
Cheio de propósitos.
São bocas unidas,
Num grudar excitante,
Troca de salivas,
Força de línguas ondulantes.
A asma me toma,
Sufoco num catarro seco,
Um beijo que aprisiona,
Fazendo emergir o medo.
Antes perder o ar com outra boca,
Do que engasgar consigo,
Só mais uma paixão louca,
Depois que venha o perigo.
Beijar é sopro de vida,
Asmar é aspirar da morte,
Quase um ato suicida,
Nem todos tem essa sorte.
Não é falta de fôlego,
Parece um aspirar sem resposta,
Pelo mundo somos sôfrego,
Os pulmões fecham as portas.
Estamos no espaço,
Jamais pelos céus da companhia,
Sim pelo respirar que é embaraço,
Nem falamos uma única sílaba.
Voltemos aos prazeres,
O seu gosto magnífico,
Que quero diversas vezes,
Nunca satisfeito eu fico.
Asmático num arroubo de sucção,
Entrelaçados por eterno momento,
A mais primorosa degustação,
Fazendo do outro o seu divertimento.
Vem asma,
Traz dor,
Ingrata,
Me causa torpor.
Jamais rouba minha lembrança,
Dos lábios rosados,
Mantenho na mente a esperança,
De novamente tocá-los.
Escravo do prazer e do desespero,
Inferno e céu a um passo,
Arranco um por um os cabelos,
Insano diante dos fatos.
Estrangulo essa traquéia,
Me enforco contigo,
Vamos rir dessa miséria,
Faz traqueostomia e nem ligo.
Vaza-me para te sentir,
Perfura criando um poro extra,
Quero seu ar habitando em mim,
Meus castigados pulmões te desejam.
Encha-me de cuspe,
Para desengrossar meu catarro,
Já estamos mortos, não se ilude,
Nascemos com esse fardo.
O sopro que anima,
Rouba com selvageria,
Pois ele me desanima,
Então toma essa condição doentia.
Não tenho voz,
Apenas um rouco chiado,
Destino atroz,
No fundo solto um miado.
Nada de felino,
Garanto a você,
Um funéreo assobio,
Um suspiro de entristecer.
Alegria é o boca a boca,
Ressuscita minha dignidade,
Vale a pena de forca,
Com esse encontro de felicidade.
Tudo vale a pena,
Mesmo com a respiração pequena,
Um não resolver de problema,
A força no gesto de amar se faz plena.