Quadro na parede
Ah, estes teus olhos de cânfora
Este teu coração que não palpita
Este teu peito que não suspira
Estes teus pés fincados como âncora
Ah, esta tua frieza que só me apavora
Estes teus braços languidos, agudos
Estes teus lábios em demasia carnudos
Tua excêntrica razão que a tudo ignora
As tuas ancas que rebolam o mundo
Pôs de joelhos toda minha bravura
E pondo-me diante de tanta clausura
Fez-me o sopro dormente do moribundo
Ah, esta mulher de face impoluta
Esvai-se de mim como seiva vitalícia
E a cada tênue desejo de tua carícia
A sofreguidão pela fálica permuta
Ah, esta figura que enfim me recruta
Não se afigura aqui, pois é Cosmopolita
Exposta nas quatro arestas de minha vida
O quadro mais belo que a parede desfruta.
Carlos Roberto Felix Viana