Desesperado é o Amor
Acordei querendo você,
Desejando cada segundo da sua presença,
Nada mais importava que se fizesse saber,
Vagava em um abismo profundo de consciência.
Queria este beijos de boca pública,
Compartilhado ósculo traidor,
Ainda que tomado de tocante fúria,
Era você que queria como Amor.
Esmolei por essa companhia capital,
Mendigando migalhas de sentimentos,
De joelhos feito devoto clerical,
Suplicando o mínimo para meu contentamento.
O sol se retirou para nublar o dia,
Quisera logo um eclipse como em meu peito,
Mas sabia que era idiossincrático o que me afligia,
Fiz de sepulcro o meu adormecido leito.
Lágrimas retive antes que derramasse,
Achei por bem guardá-las como oferendas,
Para que nesse altar de mulher eu me sacrificasse,
Doando muito além de minhas pobres rendas.
Enxergava feito um cego pelas traves visuais,
Tomado da única visão que me importava,
Num deserto repleto de motivos iguais,
O mundo querendo se mostrar, mas eu ignorava.
Meu coração aprendeu sozinho a te querer,
Agora o resto do corpo padece por isso,
Escravizado pela paixão que só faz crescer,
Atormentado em amoroso delírio.
Andei para um lado e para o outro,
Do quarto fiz um cárcere perfeito,
Para sua foto olhava absorto,
Tentando vislumbrar algo que nisso dê jeito.
O peito explodindo em brasa,
As mãos trêmulas, nervosas,
A língua retesada que secava,
Na mente apenas figuras defeituosas.
Precisava do aconchego dos teus braços,
Os seios afrontando meu tórax,
Ocuparmos um e outro o mesmo espaço,
Imaginei feito um Sócrates.
Aumentava a saudade em demasia,
Pandora deixou de me consolar,
Ainda restava uma sobra rota de alegria,
Última desculpa para não suicidar.
A falta do aroma dos teus cabelos,
Aquele contato com sua pele macia,
Compartilhávamos nossos segredos,
Criamos nossa própria maçonaria.
Nossos ritos eram de liberdade,
Num ato de carinho recíproco,
Essa fé de amar era nossa verdade,
Seguidores de um sentir infinito.
Inspirados ao ponto, de escrever livros,
Recitaríamos versos, feito fala cotidiana,
Seria minha rosa e eu o teu lírio,
Num Éden antes de pecados que aos homens espanta.
O tocar de bocas era acima de um simples ósculo,
Pois vibravam os corpos a ponto de causar dormência,
Nossa união parecia ter desde o início um firme propósito,
Caminhávamos diante das adversidades com indiferença.
Hoje vejo que sou apenas apêndice,
Desligado, perdi a função,
Ainda que motivos invente,
Sei que é inevitável essa dissolução.
Queria ter amado menos, se possível fosse,
Imaginar que os carinhos são fortuitos,
Não deixar abrir a ferida que no peito houve,
Parar de sangrar sentimentos apenas por um minuto.