Ao Cair de Uma Pena
Abro os olhos,
Observo que pena,
Leve voar de corpos,
No ar se sustenta.
Um instante parado,
Crianças próximas,
Correndo por hábito,
Mães chorosas.
Pássaros voando em círculo,
Redemoinho feito no ar,
Folhas levadas em doce ritmo,
Patos parecem nas águas planar.
Um gesto longe de motorista,
Carros indo e vindo,
Poluição logo percebida,
Em certa distância parece tudo infinito.
Um idoso boceja,
Enquanto outro tenta liquidar,
Aquela partida em tabuleiro de mesa,
Xadrez aposentado que consegue instigar.
Música de fundo,
Sem que os ouvidos captem ao certo,
Aquele momento harmônico em tudo,
Ou caótico a ponto de não julgar correto.
Bebê conduzido,
Esguicho de gotículas,
Numa fonte cheia de mendigos,
Felicidade não registrada em película.
Bêbados dormem num banco,
Cães brincam na areia,
Insetos despercebidos vão se amontoando,
Um bolsa de supermercado de leve rodopeia.
Risadas com latidos e freadas,
Um balão estoura por conta da temperatura,
Sorvete derretendo na beira da calçada,
Sapatos de salto com som de elegante postura.
Um leitor abrigado embaixo de uma árvore,
Vendedores ambulantes proliferam,
Alguém comenta sobre uma galeria de arte,
Senhoras ao olharem um grafite, menosprezam.
A pena continua a cair flutuando,
Ou sendo capturada aos poucos,
Talvez eu esteja caindo olhando,
Apreendido por essa leveza feito tolo.
Alegria viver essa tolice magnífica,
Sentir não ter peso ao planar,
Dentro do peito o coração grita,
Sou a semente que no solo esqueceu de germinar.
Quantas outras coisas ocorreram no mundo,
Apenas apreendi algo de relance,
Quando os olhos abertos diante desse beijo profundo,
Pedi pra te amar junto ao captado restante.
A pena prosseguiu sem que eu visse tocar o solo,
Só me prendi num breve olhar inusitado,
Ofegante em meio a emoção do juntar de corpos,
Me sentido em contato tudo ali habitado.