Leitor de Corações
Nos supermercados,
Quando desejamos um produto,
Temos que aproximá-lo,
Do aparelho que lê de tudo.
Não todas as leituras,
Mas sim linhas de códigos,
Códigos de barras precisas,
Comprando, nos tornamos próximos.
Na busca por essa aproximação,
Desvendamos as linhas das mãos,
Busca pela chamada impressão,
Digital que marca com nossa posição.
Esse traçar de linhas que acusa,
Comparando dentro de uma lógica,
Desejante e desejado aproximam em luta,
O término é o resultado de dupla vitória.
Ambos cedem ao símbolo,
O que antes era produto,
Junto ao consumidor ativo,
Formam uma simbiose em uso.
Entrelaçados pelas linhas que os cortam,
Ao mesmo tempo os deixam em paridade,
Lidos sob a perspectiva de que se moldam,
Codificados num ponto de unicidade.
Num terceiro ato,
A retina é exposta,
O olho é depositado,
Linhas sobrepostas.
Agora são as linhas oculares,
Mais uma vez entrecruzamento,
Traços horizontais e verticais,
Alinhados num movimento.
Mas preciso de outra inovação,
Quero explorar novo órgão,
Não rejeito essa técnica de aproximação,
Só que pretendo ler o coração.
Sei dos eletrocardiogramas,
Mas não atendem meus desejos,
Preciso mais que essa realidade plana,
Tenho que criar união entre dois peitos.
Saber através dessa leitura,
Como seria o sentir alheio,
Só permitir uma harmônica conjuntura,
Amor que promove entregar por inteiro.
Dois que em um dado alinhamento,
Sentem-se unidos por algo em comum.
Tomados num mover de sentimentos,
Traduzidos numa hermenêutica de algo mais profundo.
O beijo poderia acionar o mecanismo,
Enquanto aceleravam os batimentos cardíacos,
Leitura sincrônica de amantes lidos,
Dimensionando desejante e desejado num ganho recíproco.
Ambos se dão e são dados,
Expostos e contidos,
A linha o ser e ter amado,
Nada importando além disso.