MEDITAÇÃO E AMOR
MEDITAÇÃO E AMOR
Tenho o cosmos nas mãos,
As mesmas que arrancam a terra,
Rasgam o chão e o fazem em flor!
Sustento nos dedos a raiva de desejar,
A descoberta da vida e do amor,
A criança que, nascida, encerra
Energias de ventos de fé e pagãos!
Tenho o cosmos no olhar,
Aquele que descobre os universo,
Sem caminhos percorridos, sem rumos,
Nem bússolas, sextantes, rosa-dos-ventos,
Mas que não deixa de amar
As estrelas e as luas no verso
Escrito por entre vapores e fumos
De ritos antigos e danças d’encantos!
Tenho calor neste peito
Que bate inconformado como no ventre,
Ansioso de navegar por entre a multidão
Que, acotovelada, corre na rua cheia de ilusões,
Patética, desconfiada da imensidão
Do abismo que percorre e sente
Sem nele encontrar porto ou defeito!
Tenho o grito na boca
Quando recito o poema feito vida
E balbucio as primeiras palavras do verbo querer,
Desprendidas como pétalas de desejos
Abraçados ás lágrimas que fazem arder
A mais simples mensagem sentida
Que de tanto amar, é louca!
Tenho no ar que respiro os ecos
Saltitando de montanha em montanha,
Mensageiros do condor que vigia a natureza
Pintada num Éden que nem sei seu existir,
Neste mapa de papéis secos,
Depósitos da caminhada que se entranha
Adentro da batalha que é certeza!
Tenho no sorriso a praia e o farol,
A falésia que prolonga o oceano,
O “D-us me guie” do pescador
E o cheiro a gado apascentando a erva!
Teço grinaldas no gesto de criador,
Com selvagens flores de arcano
E imagino imagens de áurea e sol!
Tenho em mim o nada feito tudo,
A corrida rumo à meta já cruzada,
A descoberta do choro do navegante
E o ranger dos dentes na prece cerrados!
Sou, afinal, apenas eu pensante e mudo
Que verte gotas de suor na caminhada
De tão determinada é tão errante,
Mas que alcança sempre universos encantados!
E quando me perguntam o que tenho p’ra dar,
Abro os braços e solto os ventos,
Rasgo o coração e agito a bandeira,
Canto e danço, sou poeta e trovador,
Atiço o lume aceso na lareira
Que é lar dos meus encantos,
Porque dou força para partir e chegar!
José Domingos
2011-09-26