Dos Cabelos de Fogo

Bela criatura singela,

Com este ar angelical,

Seu olhar me penetra,

Envolve-me nesse umbral.

Sentada recatada,

Gestos modestos,

Não percebo sua fitada,

Me prendo a palcos indigestos.

Ao elevar-se,

Contemplo o andar,

Movimentos singulares,

Majestosa ao caminhar.

Em cárcere carnal,

Em soslaio lhe busco,

Num ir e vir habitual,

Tenho motivos de intruso.

Por navegações inesperadas,

Encontro-a novamente,

Agora com palavras empregadas,

Sem tanto pudor indolente.

Nada disso comparado,

A sua presença viva,

Toque suave despertado,

Olhos de doce alegria.

Menina em gestos pequenos,

Expandindo as maneiras,

Eloquente no devido tempo,

Confirmando algumas certezas.

O aroma do perfume discreto,

Misturado ao cheiro do corpo esbelto,

Metamorfoseando-me em liberto,

Tendo ao nosso alcance o prazer certo.

Um beijo trocado,

Jamais um ósculo frívolo,

Ardor de entes aproximados,

Preceitos morais corrompidos.

Mãos entrelaçadas,

Busca sôfrega de dedos,

Pupilas vidradas,

Extingui-se o medo.

Idades diluídas,

Valores extintos,

Línguas unidas,

Corpos em instinto.

Paixão em fúria,

Faz expulsar vestes,

Expor nudez pura,

Riso solto que embebe.

O quadrilátero macio,

Aconchega horizontes desnudos,

Cobertos por fino tecido,

Enrolados num luxuriante mundo.

Cada segundo é busca,

Daí a necessidade de sentir,

Impede grandes aberturas,

É preciso tomar até exaurir.

Falas entrecortadas,

Gemidos elevados em louvor,

Oração tresloucada,

Hino de amantes em furor.

Palavras lançadas em desespero,

Choros expressos em cataratas,

Movimentos de contato ligeiro,

Sons em euforia que beira a algazarra.

Grudados numa infinidade,

O relógio é contido,

Absurda relatividade,

O gozo vivo é expelido.

Insatisfação contagiante,

Novos ritos de carne,

Mais gozos para os desejantes,

Do amor se faz arte.

Comentários soltos,

Alguns despretensiosos desvios,

Um busca o outro,

Parecem feitos para esse destino.

Antes era uma hora,

Passa uma madrugada,

O restante se ignora,

Amazonantes cavalgadas.

Cabelos de fogo atrevidos,

Fênix que ressurge a cada orgasmo,

Ave de orgiástico incentivo,

Alça vôo nessa alcova que é seu espaço.

Suas plumas roçam os rústicos pelos,

Arrepiam na suavidade,

Abre-se feito pavão, revela segredos,

Cresce em maturidade.

Batizada nesse altar da gula,

Velada por candelabros,

Adornada por mordaças figuras,

Desvencilha amarras dos braços.

Abraço carinhoso,

Envolvente ternura,

Se estende pelas pernas, envolto,

Embalados nessa baixa estatura.

Acolhe-me por coxas,

Ventre em cálice ofertado,

Respira num boca a boca,

Virados de repente ao contrário.

Gosto ainda mais adocicado,

Sinto leve ardência que dá sabor,

Bebendo em goles prolongados,

Cultivando essa gloriosa flor.

Pés descalços,

Num encolher de dedos,

Suspensos, no alto,

Em meus ombros aconchego.

Quadris tocam as nuvens,

Que são feitas de tecido,

Sustentados não por truque,

Mas por mãos dos glúteos enrijecidos.

Numa cólera de prazer,

Exorcizando dizeres castos,

Explodindo em vulgar dizer,

Suplicando nomes ditos “baixos”.

Suor misturado,

Grude de secreções,

Amor molhado,

Líquidas evoluções.

Coração pulsando,

Batidas em ritmo acelerado,

Os dois não sossegando,

Animais em sedutor pasto.

Odor que sobe pelas narinas,

Presença que escorre,

Deixando marca em peças íntimas,

Investida que nos absorve.

Caídos exaustos,

Estendidos no leito passivo,

Pálpebras em atos heróicos,

Resistem ao sono combativo.

Nas trevas do cômodo,

Tato desvendando trevas,

Visão perdida em cego incômodo,

Reacendendo paixão que não desacelera.

Escondidos de recriminações,

Marginais atrevidos do pecado,

Em juras secretas que viram canções,

Pernas, braços, membros misturados.

Masmorra de amoroso carrasco,

Arrancando dores perseguidas,

Entrega de servos enamorados,

Cada momento uma despedida.

O fim é cada ato,

Por isso a urgência,

Afastamento ingrato,

Pedem mais por clemência.

No silêncio da voz,

Fala o eco cardíaco,

Ressoando atroz,

O desejo afrodisíaco.

Inspirações míticas,

Tornam-se pueris,

Satisfações físicas,

Não precisam de ardis.

Desvelar as formas,

Redondas e rígidas protuberâncias,

Seios médios que em círculo dão voltas,

Contornando busto de suficiente abundância.

Palidez marmórea,

Leve pincelada rosada,

Dissimetria corpórea,

Vênus de beleza acidentada.

Marcas formando natural tatuagem,

Pelagem em vasta relva,

Vibram meus olhos na imagem,

Naquele instante se faz minha Eva.

Calores que emanam,

Compondo clima mais propício,

Evaporando ácaros na ardente cama,

Infernal deleite de apaixonante hospício.

Baixo ventre cerrado,

Aguilhões na palma que roça,

Contraído em espasmo,

Descontraído quando goza.

Vertendo vermelho vivo,

Num menstruo sem rédeas,

Liquefazendo aqueles sítios,

Alagando até deixar sequelas.

Carência insuprimível,

Mudando estações no quarto,

Nada tendo de previsível,

Feito bicho se pondo de quatro.

Música de fundo,

Ambiente sabático,

Meditação de segundos,

Nirvana orgasmático.

Epidermes em fricção,

Terremoto de corporal erupção,

Verbo motivado em ação,

Dois que se fazem um só coração.

Sobras de fios avermelhados,

Espalhados nos quatro cantos,

Resquícios de amantes fanáticos,

Motivo de saudades e prantos.

Conhecendo-se cada parte,

Apenas acentua o querer,

O hábito não corrompe o enlace,

Fortificam-se sem perecer.

Os mais céticos se rendem,

Devido à força da prova,

Mesmo os que não entendem,

Sabem que se faz romântica norma.

Inseguranças causam picos,

Tormento passageiro,

Trocados por fortes arrepios,

Dor de amante desespero.

Lâmina que transpassa,

Expondo sulcos,

Fios de vinho sanguíneo em massa,

Transpondo músculos.

Pacto de rito primitivo,

Adornado por coetâneos traços,

Amor incontrolável, arredio,

Toma o outro por pequenos pedaços.

Perdidos no encontro amoroso,

Libertos numa prisão de carícias,

Sonho que os desperta em destroços,

Tristes pela felicidade que termina.