Dedicatória pretensiosamente humilde (Cheia de ternura)
Você foi entrando em minha vida como quem não quer nada,
Despretensiosamente adentrou a sala, adivinhando o segredo da chave.
Há algo de mágico em tua sutileza doce,
E, logo eu, o mais cético dos céticos,
Rendo-me a tua presença mística.
Você desconhece a bruxaria que te move,
Você transpira, expira, respira e me inspira a simplicidade das coisas eternas,
Eu, o ateu, o agnóstico; o mais indeciso e inseguro dos seres que rastejam,
Enxergo em ti a velocidade do lento amor que me magnetiza.
Novamente eu, aquele sempre com medo de soar piegas,
Com vergonha dos amigos, das vontades, dos horizontes,
Ajoelho-me diante da bela bruxa que voa na vassoura da meiguice,
Mas que também carrega consigo a força das tempestades, dos vulcões e da
Tensão pré-menstrual.
Sim, sou aquele poeta perdido em divagações inúteis,
Reconheço a superioridade da tua mente, do teu corpo e do teu espírito,
Mas não me menosprezo, pois sei que como nenhum outro duende ou psicólogo,
Posso desvendar um milésimo do mistério claro que te envolve.
Como um servo estudioso e entregue às enciclopédias,
Procuro teus pontos secretos, pois ainda não descobertos,
Sei que muitas vezes erro e a humildade não é das minhas maiores virtudes,
Mas prometo, se não a ti (pois talvez duvides), a mim mesmo,
Tentar sempre encontrar aquele lugar mais além.
Talvez você me repreenda por estas tantas palavras perdidas,
Que talvez soem desconexas,
Mas espero que entendas que elas nasceram de um frio existencial e de uma
Profunda falta siberiana de teu calor.
Acho que sempre fui (no fundo do poço e afogado) lírico e romântico,
Mas nunca mergulhei, tão profundamente, num lago tão raso com tanta certeza.
Pode ser que, novamente , eu morra com o pescoço quebrado,
Esteja ele enterrado no barro ou dependurado numa bela árvore,
Mas, sei lá, estou tão velho que tanto o chão quanto o céu me esperam de braços abertos.
Você é a minhoca que aduba o ar que esqueço de respirar,
Você é o pássaro que passeia no intraterreno para não me sufocar,
Sem grandes pretensões, sonhos e megalomanias,
Me sinto tão maior que a vida e escalando arbustos,
Para te encontrar no topo do pé de alface e me abraçar às nuvens,
Mesmo com medo de altura e sentimentos.
Junho/2007