Hora de Amar
Nestes olhos me perdi,
Não sabia mais quem eu era,
No reflexo eu me vi,
Só senti que o coração acelera.
Disse em silêncio pra mim,
É hora de te amar sem medida,
Passou a ser flor reinante em meu jardim,
Florescendo no meu peito a alegria.
Mas hora de amor é muito estranha,
Se perde o sentido de tempo,
Por mais que o sujeito se assanha,
É como um desgarrado momento.
Tudo parece paralisado,
Quem sabe ficou tudo lento,
Talvez tudo muito rápido,
Quem sabe tudo sem tempo.
Não poderia contar temporalmente,
Um segundo era eternidade que se alastra,
O espaço se desfez abertamente,
Nem saberia definir onde eu me encontrava.
Feito Zeus, damos pedras a Chronos,
Queremos nos despir da temporalidade,
Numa diluição em que nos amamos,
Tornando o sentimento a responsabilidade.
Desejei datar para o fato gravar,
Mas sem o tempo, como faria?
Então me entreguei ao te amar,
Transformando o êxtase em harmonia.
Eros observou de longe,
Não quis adentrar nosso universo,
Mas na sua infantil fronte,
A satisfação de ter contribuído, por certo.
As coisas ao derredor,
Seguiam seu próprio ritmo,
Tornamos algo maior,
Envolvemos o infinito.
Não existia por completo,
Nem o sol e nem a lua,
Detemos o crepúsculo no teto,
Formando a mistura minha e sua.
A duração ficou velada,
A sensação foi aflorada,
A paz então foi declarada,
A morte e a vida de mãos dadas.
Mente apagando por prazer,
Entregues a um sublime nada,
O que estava fora fizemos desaparecer,
A metafísica de Alberto Caeiro anunciada.
Se um deus é o tudo e o nada,
Ali nos tornamos divinizados,
Nessa louca e amorosa matemática,
1 + 1 seria sempre igual a 1, assim foi determinado.
As horas, quem se importa com elas?
Imaginavam que deveriam estar passando,
Mas sem contar, perdem o sentido, viram pilhéria,
E os 2 que são 1 vão se matematizando.
Não foi o fora que não conseguiu ir pra dentro,
O dentro que conseguiu ir pra fora,
Todo o resto se rendeu ao amor de farto provimento,
Não existe mais pressa e nem demora.
Assim ficou comprovado,
Que a hora do amor é percebida,
Quando o tempo não é mais consultado,
E a eternidade num segundo se faz estendida.