Viver e morrer

Por que falar

Se as pedras, únicas amigas,

Não me ouvem

E as árvores caem para o lado

Ao me verem chegar?

Na estrada por onde caminho

Não vejo a quem procuro...

Tanto tempo diluído nessa noite,

Entre essas camadas de silêncios

Devo ter ficado

E o ser que vaga

Exposto a esses olhares

Tão normais,

Eu não conheço...

Sou outro,

Um ser livre,

Sem sonhos,

Sem amigos,

Sem obrigações...

Essa paisagem de chumbo,

De distâncias,

De pensamentos incompletos,

Desconexos,

Perdidos desejos já caducos,

Me parece amigável...

De certa forma

É bom está aqui

Sem vontade

Sem compreensão,

Apenas assim...

Apesar de que

Eu poderia gritar

E desistir disso,

E imaginar que talvez

Fosse bom dizer bem alto

Que um dia meu coração queimou

E me aprazer mais

Por não falar nada

E resistir ainda uma vez

A essa doce tentação...

Olha

Fui ali e soltei

Do precipício meus poemas

Iniciados

Idéias que rascunhei

Quando não tinha tempo

Para concluí-las...

Sempre me vieram

Quando não as quis,

Agora que se foram,

Lembro-me que um dia cri

Que pudesse terminá-las

E formar algumas páginas

Que pudesse ser o passatempo

De alguém...

Mas eu jamais os revi,

Agora

Anacoreta reverso das coisas

Sinto-me livre

Sem nenhuma necessidade,

Sem desejos,

E mesmo sem sonhos,

Levando a vida assim,

Entre um passo e outro,

Um intervalo apertado

Que contem toda minha filosofia...

Ah, sim,

O teu rosto

A maquiagem que esconde

Teu ser inviolável,

Teu rosto

Tantas vezes,

À força de imaginação,

Por meus dedos medrosos

Riscados...

Teu rosto desfeito no tempo,

Um vulto de minha lembrança,

Ainda penso nele de vez em quando...

Mas é rápido

Porque morrer e viver

Para mim é uma só coisa...

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 16/07/2011
Código do texto: T3098811
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