Lenço Branco

Foi com ele que enxuguei,

As lágrimas do seu rosto,

Com sua tristeza o molhei,

Guardando algo de ti no bolso.

Ao tocar naquela umidade,

Lembrava de seu pranto,

Apesar da dor por sua infelicidade,

Era feliz ter essas gotas de encanto.

Feito mortalha jogada sobre corpos,

O pano branco conteve seu sulco lacrimal,

Não daria conta do volume total, é lógico,

Mas ajudava a diminuir o orvalho facial.

Justamente branco, as marcas visíveis,

Feito blusa de moça molhada expondo os mamilos,

Senti o aroma do seu soro de cicatrizes,

Beijei com delideza pelo respeito a seus motivos.

Sem poder te abraçar,

Dei-te o lenço de consolo,

Não podendo beijar,

Recebi seu duro desgosto.

O cheiro de lágrima com tecido,

Nem lavei aquele objeto,

Era relíquia que me fez comovido,

A forma de dizer "eu te quero".

A algibeira do paletó,

Recebia o lencinho,

Sujo de dar dó,

Guardado com carinho.

Em certos romances,

A donzela com o lenço acenava.

Porque não posso ter um instante,

Em que tenha minha paixão recompensada?

Morri anos depois sem a paixão revelar,

Amor inocente que foi velado até o fim,

O lenço o meu corpo morto foi adornar,

Feliz por ela agora dedicar seu pranto a mim.