Berenice morta

Por que você me deixou?

Por acaso não te disse que

Eras minha vida e minha morte?

Por acaso não te disse eras

Meu corpo e minha alma?

Por acaso não te disse que

Eras meu pecado e minha salvação?

Por que você me deixou?

Tu não és essa matéria arroxeada,

Teu rosto lívido foi o que ficou,

Não responde tua carne aos meus beijos?

Três dias me deixou!

Cadê as forças extra-humanas?

Era tudo mentira?

Vem oh seres,

Não apelo mais a quem chamam salvador,

Levem também minha alma

Ela já não tem mais valor!

Mas permiti ainda uma vez

Que o calor adentre esse corpo

Permiti que esses lábios duros

Correspondam ao meu beijo molhado!

Permiti que um vestígio de vida

Anime esse coração crespo,

Minha morada,

Total razão de minha dor!

Nessa casa afastada,

Nesse quarto silencioso,

Nos escuros dos cantos

Não querem aparecer?!

Por acaso eu carrego alguma cruz?

Por acaso tenho alguma fé?

Aparecei!

Não me valeu o conhecimento pífio

De ciências e filosofias,

Não me valeu a prata ou a posse,

Estou só!

E meu único Bem está servido

Nesse pentagrama,

Em cada ponta uma vela preta,

Em cada cruzamento uma vela preta,

Por acaso não é assim que posso te evocar?

Aparece!

Que esse odor de salmouras

Enche-me as narinas

Que a decomposição de meu Bem

Doem-me os ossos

E faz meu coração crispar!

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 14/07/2011
Reeditado em 30/01/2013
Código do texto: T3094620
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