De um verso perdido
Enquanto o sol se enaltece intrépido à alva
Dorme este ser no coração em mentes vãs
Por dispersas pelo vento como claras nuvens sãs
Em si cada lágrima no pranto como em salva
E a tarde em que vem o delírio recorrente
Da dor de um dia em tu'alma delirante
Transborda em teu seio a vontade que, fecunda,
O teu choro em teu leito que em si enfim inunda
Sim, vens na aurora em teus mantos puros, alvos
Se no brilho te ofuscas só por ver-te de repente
Não, não és este sórdido e frio ausente
Mas somente a saudade de teus beijos tão infindos
Oh, teu cálice é tão cheio em meio à terra fértil
Que renasce em cada única semente replantada,
Te esqueces de que fora de mim tão arrancada
Desta face o meu sorriso derradeiro em dia ardil
Sei da dor de um amor sofrido e tão instante
Que não se acostuma em sofrer em tua ida
Mas nasce em véu choroso ao lembrar desta partida
Tal sôfrega calma pós a noite flamejante
Não te lembras dos abraços que tiveste meu consolo
Teu encanto derramaste neste peito endurecido
Que, agora, é tão frágil e, por fim, enternecido
E sofre por sentir-se frágil, pobre, fraco, tolo
Enquanto o sol brilha na alvorada
Vive emudecido meu grito sem razão
Morrendo a cada dia no silêncio desta vida,
Vivendo mais tão só em meio à multidão...