O rosto de Frankenstein

ou Matéria fantasma

“Os homens podem

Sonhar seus jardins

De matéria fantasma”

JCMN

Eu não apenas sonhei,

Mas criei,

Não apenas um jardim,

Mas todo um mundo,

E não foi,

De material fantasma,

Mas com a Dor

E a autenticidade

Do meu Sangue...

E tenho gostado

Do que criei,

Como um quadro infinito

Que nunca está pronto.

Uma pincelada aqui,

Outra ali, o quadro se formando,

Mas esse mundo

Eu nunca terminei...

Ele vai sempre se alongando

Com o cantar de cada galo,

Se alastrando com o voar

De cada coruja escondida,

Assim eu tenho o meu mundo,

Disforme, é certo,

Como o rosto de Frankenstein...

Um pedaço não se encaixa bem no outro,

As costuras grosseiras ficam à mostra...

Como nem sempre

Vem a noite depois do dia,

Nem o riso depois da alegria,

Às vezes vêm Dias de dias,

O sol sempre nascendo

Sem intervalos de escuro.

Do mesmo modo,

Há Noites de noites,

Assim é o meu mundo,

Será e foi, uma alegoria...

Naqueles dias em que

Era fácil para nós Sorrir,

E daquela tarde primeira

Eu colhi muito material,

E até achei que pudesse por fim,

Ó ânsia das ânsias!

Achei que pudesse por fim

Em minha colossal construção

Pondo um ponto final,

Nos acabamentos, no retoque

Do meu coração...

Mas veio

Chuvas, Furacões e Vendavais

Que levaram para Longe,

Para além do pensamento,

Boa parte de mim,

Que não acho mais...

Eu me senti sozinho,

E onde eu tinha recoberto

Carinhosamente

Com espumas do mar da Arábia,

Nesse corpo ficaram á mostra

Os velhos cravados espinhos...

Às vezes penso que tudo,

Absorto,

Tenho que construir...

Mas que explicação há?

Quantas vezes nos encontramos!

E nesses encontros

Quanto fomos felizes?!

Como era raro nosso material!

Só de pensar eu me assombro

Que entre nós havia uma sombra,

Um fantasma, um fantasma sorrindo

A minar o produto do mundo

Que de nossa alegria

Eu estava satisfeito construindo...

Porém eu não pude perceber,

Me desculpe... Apenas lembro

Que um dia o fantasma se mostrou,

E embasbacado caí de Sofrimento

Sua presença revelou,

Não apenas que ele avia plantado

Cupins no nosso estabelecimento,

Mas consistir também ser,

De matéria fantasma,

Tudo que eu acreditava ter feito de

Aço, mármore, e cimento...

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 28/06/2011
Reeditado em 28/06/2011
Código do texto: T3063200
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