VEJA MEU AMOR: POEMA IDIOTA PARA UM AMOR INVENTADO
Veja, meu amor, a lua cheia
que no mês de maio, quase findo,
mostra-se com intenso brilho,
indiferente à chuva e ao frio,
imponente e altaneira, no céu vazio
de estrelas, em prata, colorindo
o meu café forte com sucrilho
e leite: coisa de xícara e meia.
Sinta, meu amor, tudo
o que me vai na mente e no coração,
desde O Elogio da Loucura
que, nesses dias, eu leio
à minha imensa preocupação
com a falta de vergonha na cara
que assola a classe política,
ocupada em roubar o mundo
e o que mais estiver de permeio.
Ouça, meu amor, atentamente,
a canção que não me sai da boca,
incrustada que me ficou na mente,
a ponto de virar motivo de chacota
de todos que a ouvem, seca,
- feito a seca do seco nordeste -,
quando a canto, meio na moita,
pela noite fria da rua São Clemente.
Ah! Meu amor, meu amorzinho,
que, um dia, por falta de coisa melhor,
foi comigo ao cinema poeira do bairro,
numa sessão de três e meia da tarde,
e, agora, passado o medo do escuro,
o vento levou, para longe, o carinho
e o meu triste soneto de amor,
espelho da mais completa irrealidade.
Pense, meu amor, no nosso futuro,
hoje, já bem mais curto
que no dia de ante-ontem,
quando, ainda, poder-se-ia
viver só de encantamento
e, também, de um pouco da aragem
que sopra forte pelo furo
da parede esquerda do forno da padaria.
Enfim, meu amor, chegamos
ao nosso destino final,
à estação derradeira,
que não é nem central,
cosmos, piedade, madureira,
penha, realengo ou ramos,
mas, sim, a um lugar irreal,
onde se lê, num imenso letreiro digital:
Erramos!!
- por JL Semeador, em 19/05/2011 -