Menina Comportada

Este sentimento que arranca suspiros e sussurros

Fora feito para outras, não para mim!

A sede que move as bocas com palavras tolas

Esteve em outras, não em mim.

Canções ao pé de ouvidos, as juras ainda que fingidas

Foram ditas para outras, não para mim.

A saudade de quem ainda está perto

Foi nutrida pelas outras, não por mim.

Os beijos furtivos sob faces rosadas

Foram direcionados a outras, não a mim.

As cartas de uma Paixão cega e desvairada

Foram remetidas as outras, não a mim.

A entonação das grandes orquestras

Foram inspiradas em virtude das outras, não de mim.

As demoras marcadas pelos relógios descompassados

Foram mensuradas pelas as outras, não para mim.

Os bustos, arautos, pinturas, prosas, sutis melodias...

Arquitetados para outras, não por mim.

Emprestar minha pena para Eros é puro pedantismo,

Assemelhar-se-ia a traduzir símbolos de javanês.

Como um Casmurro solitário que sou

Todo fictício amor que conheci

Restringem-se as músicas de Chico Buarque.

Ouvidas com seus chiados, e bem baixinhas

Do meu nostálgico vinil.

Rafaela Barreto
Enviado por Rafaela Barreto em 06/06/2011
Código do texto: T3017488
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