Menina Comportada
Este sentimento que arranca suspiros e sussurros
Fora feito para outras, não para mim!
A sede que move as bocas com palavras tolas
Esteve em outras, não em mim.
Canções ao pé de ouvidos, as juras ainda que fingidas
Foram ditas para outras, não para mim.
A saudade de quem ainda está perto
Foi nutrida pelas outras, não por mim.
Os beijos furtivos sob faces rosadas
Foram direcionados a outras, não a mim.
As cartas de uma Paixão cega e desvairada
Foram remetidas as outras, não a mim.
A entonação das grandes orquestras
Foram inspiradas em virtude das outras, não de mim.
As demoras marcadas pelos relógios descompassados
Foram mensuradas pelas as outras, não para mim.
Os bustos, arautos, pinturas, prosas, sutis melodias...
Arquitetados para outras, não por mim.
Emprestar minha pena para Eros é puro pedantismo,
Assemelhar-se-ia a traduzir símbolos de javanês.
Como um Casmurro solitário que sou
Todo fictício amor que conheci
Restringem-se as músicas de Chico Buarque.
Ouvidas com seus chiados, e bem baixinhas
Do meu nostálgico vinil.