A Sua Boca
Quero te beijar,
Provar destes lábios de amor,
Desejo sugar,
Bocas encontradas num sabor.
Os cantinhos labiais explorados,
Descobrir os caminhos bucais,
Encontro de salivas de sexos separados,
Libido que escorre com suaves gemidos.
Arrepio que eriça os pelos,
Um respirar mais forte,
Aquele aperto do desejo,
Uma permuta de toques.
As línguas bailam do lado de dentro,
Se contorcem fazendo um amor oral,
Troca de posições em linguadas de sentimento,
Um come o outro num sexismo bucal.
A ponta da língua toca o céu da boca,
É um paraíso ter descoberto o beijo,
Parecemos diluir nessa gostosura louca,
Eu sou você e e você sou eu num ardente lampejo.
E excito-me com esse roçar de beiços,
Gostos misturados numa multiplicidade degustativa,
Um tem ao outro como delicioso adereço,
Parecemos filhos de Baco numa orgiástica glutonaria.
Vem com teus beijos que te recebo com os meus,
Esse é o comércio mais belo entre os amantes,
Perdas e ganhos mútuos que nunca ninguém se arrependeu,
Juntos somos um único e saboroso instante.
Os olhos fecham-se para a visão não se interpor,
O paladar predomina junto com o tato,
Aroma e audição ficam ao fundo feito expectador,
Na oralidade somos o amor não falado.
Calamos um ao outro ao exprimir um verbo amoroso,
Verborragia de línguas enroladas, feito epilepsia,
É um eterno instante que se acredita ter um ao outro,
O mundo em volta morre e só existe o beijo por garantia.
Uma entrega de provações variadas,
Engolimos um pouco de cada,
Damos um pouco de si na forma degustada,
É a mais verborrágica-muda fala.
O corpo amolece, o coração dispara,
As mãos trêmulas e a boca seca,
Logo depois o beijo a faz molhada,
Caridade que esse deserto tem por certa.
Se todos conhecessem o ato de beijar,
Não teria deus que não criasse dessa forma,
Um Eros primitivo que antecede a o falar,
Sentindo erótico que nossa natureza transborda.