SONHO E SAUDADE
SONHO E SAUDADE
Um leito ermo me acolhe,
Frio vazio, tão só!
O ‘spirito sem sorte
Espera que desfolhe
Lágrimas sem consorte!
Sou um botão curvado
Feito de uma qualquer
Rosa tirada à raiz,
Recorte amarelado,
Sem vida e sem morte!
A penumbra do sonho
Navega sem limite
O mar que é meu corpo,
Que declino tristonho
Na pedra feita horto!
Calmaria da noite
Abraça os olhos ali,
Onde te busco no céu!
Saudade, mais que açoite,
És barco tão só, tão meu!
Nem a lua conforta
Aquele frio leito
Em que recosto, pensante,
A dor com que me deito
Quando estás distante!
Cerro os olhos p’ra sonhar,
Ouvir os anjos dizer
Que juntos na viagem
Nos havemos de encontrar,
Além do mar, da aragem!
E assim adormeço,
Sem abraço, sem beijo,
Neste leito de luar
Germinando o desejo,
A certeza de te amar!
José Domingos