Clarice
Uma apaixonada,
Deveras repleta do amor,
Aquela sensação que esmaga,
Parecia sentir uma imensa dor.
Assim sofria a cada dia,
Pedindo a volta do amado,
Perdera a sensação de alegria,
Queria mudar aquele quadro.
O olhar triste sobre a foto,
Pousando uma sombra de sentir,
Desejando outro gole daquele copo,
Que levava à boca num gesto de engolir.
A vodka descendo áspera,
O choro reprimido no peito,
Sua paixão carcerária, enfática,
Tendo suprimido o desejo.
Buscando a esperança,
Para reecontrar o seu amante,
Um resquício de lembrança,
Tudo diluindo num instante.
As mãos trêmulas cruzadas,
A boca com a saliva seca,
Um suspiro que vez ou outra escapa,
Presumira que adoecera.
O aroma do seu homem,
Nada mais consegue captar,
Recordando o ontem,
Não é possível se acalmar.
As roupas no seu corpo magro,
Dão uma silhueta cadavérica,
Contornando seus delicados traços,
Uma mulher sentindo-se velha.
Seus lábios perderam o doce sabor,
Daqueles beijos que os alimentavam,
Presa a uma realidade que lhe inspira horror,
Nem as preces de outrora agora adiantavam.
Seu medo maior é esquecer,
O rosto do seu ser amado,
Não deseja com o tempo arrefecer,
O seu pranto que jamais será curado.
A morte aparece um dia e nos leva,
Sem dar nenhum aviso prévio,
Um amor que se dizia eterna entrega,
O que sobra é um vazio, algo cético.
A neblina na madrugada,
Faz o vidro da janela embaçar,
A visão permanece vidrada,
No nada presente que vem se mostrar.
Seus braços pendem sobre o braço da cadeira,
A lâmina da faca na pele branca desliza,
O sangue escorre criando contraste, uma linha nortea,
Umas das gotsa grossas no carpete pinga.
A idéia é de que irá se encontrar com ele,
Mas morrer é algo tão singular que pensa em si,
O corpo responde tentando sobreviver,
Mas é chegado o momento de se extinguir.
Morava só e os vizinhos detectaram o odor,
A perícia veio e comprovou o suicídio,
Mas somente ela soube que fora um ato de amor,
Mas morrera sem bilhetes, não deixara indícios.