QUEM ENTENDE O AMOR?

Tem andado inquieto, arredio,

pelos cantos, amuado,

encolhido; nem está frio;

conversando só, angustiado,

sem se alimentar,

só lamentando,

estático, paralisado,

nem passeando,

sem do jardim cuidar,

tendo pesadelos sem dormir,

escondendo do telefone

tanto tempo sem sorrir...

silente, raivoso, insone...

Num instante, corre pela casa,

se veste de roupa de grife,

se encharca de caro perfume,

um entra e sai, um passa-passa,

cantoralando pela rua vazia,

som no mais alto volume,

dançando pelo quintal,

vendo estrelas ao meio-dia,

sorrindo para o varal,

não sai da academia,

malha toda noite, toda hora,

abusada e inusitada alegria,

jeito de quem namora;

desfilando como modelo,

todo arrumado, um primor.

Ah! Esse volúvel amor,

não se permite entendê-lo...

[gustavo drummond]