Esperança
A esperança é tão linda, e triste
Como um grande amor que se foi,
Uma grande dor a lamentar... em vão...
A alegria existe como as estrelas, reluzindo,
Tudo é tão belo, um jardim, uma flor,
Mas, de repente, o belo não é mais tão belo
E a flor não mais existe, e o jardim...
O jardim não é mais o mesmo,
E vive a esmo...
De repente uma lembrança vem no peito
E a mágoa até o último instante
De um poeta a lamentar, na eternidade
A mágoa de poder ter amado, e não ter feito.
Só há tristeza na alegria, somente pétalas
De uma flor que partiu e desmoronou
Um sorriso que vivia, em um poeta que queria
Amar e poder sonhar... sonhou, e amou.
Porém este mesmo amor magoou, ao deixar
Um poeta escrevendo uma poesia
É como um sonhador querendo tornar o sonho realidade,
É como um perdedor lamentando não ter ganhado,
É como um amante,0 tentando ser feliz...
Amando a vida, odeia a morte, mas vive entre os dois,
Morrendo a cada instante em uma vida de amor
Vivendo, a cada morte, e sofrendo uma grande dor.
A esperança é tão linda, e triste
como um grande amor a sorrir
Um sorriso inesquecível, jamais repetido,
Como o olhar brilhante de uma deusa a chamar:
"Eu quero te amar", e o poeta ouvindo, indiferente,
"Não queria te amar", e ele desprezando,
"Não quero te amar", e ele concordando,
E o silêncio... e ele sofrendo.
"Talvez um dia", e ele morrendo,
Até o último dia, hoje, e ele... esperando...
Triste, como a vida, escrevendo.
Como um eterno apaixonado, o amor insiste.
Como um eterno sonhador, a paixão existe,
E em uma eterna esperança, o tempo persiste
A magoar um eterno escritor, a chorar...
Em sendo sentimental, o poeta sofre (eu sofro),
E a cada dia, a cada instante, o coração palpita,
E os olhos inundam-se de lágrimas de sangue,
E o coração chora lágrimas de amargura,
Por amar mais do que pôde, e querer poder
Por não querer amar ninguém no mundo,
E não poder querer.
Enfim, por se despedaçar a cada palavra
E se perder neste mundo de tristezas...
O otimismo existe, e o poeta tenta sorrir,
Mas... para que sorrir, se se pode chorar?
Para que amar, se se pode odiar?
E o poeta se magoa com o sorriso, com o amor,
Quando tenta sorrir, chora
Quando tenta amar, odeia...
Odeia por ser desprezado, em vão,
Chora por ter sido amado, em vão...
A paixão ele espera, um dia, encontrar
E lhe dar o maior amor do mundo,
E ele poderá, então, dizer, por fim:
"Sou feliz, acordado, sonhando,
Com um amor, vibrante, me amando,
Um sonhador, uma musa de seda,
Uma mulher, chamada... esperança."
E o poeta acordou... e chorou.
09/05/1988.