Infinitamente amada
I
Nunca pensei que fosse viver
A ponto de ter a liberdade
De amar assim como te amei...
Minha nossa e como te amei
E como quis te amar
E como te sonhei
E todo dia eu pintava-te
Um pouco
No quadro em que fixei
As minhas neuras de felicidade
Que quis que houvesse em ti,
Ah! Como cri, como nisso acreditei!
Há algum mal nisso?
Desejar que a realidade
Se pareça com o mundo
Moldado pelos nossos sonhos,
Desde o mais pueril
Até o doce que nasceu
Num momento de amargura...?
Que mal há em
Acreditar que a vida
Que estamos levando
Cabe no molde daquilo
Que sempre nos levou mais além,
Os sonhos que cozinhamos
Durante a caminhada e a vigília
A que fomos submetidos,
A cada passo pacificado ou dolorido,
Esses sublimes desejos de haver
Nalgum lugar perfume
De felicidade além, a fora, para nós,
O que nos fez forte,
E não nos deixou pelo meio do caminho,
Nem nosso pedaço
Na ponta de qualquer espinho...
Que nasceram de nossas
Mais autenticas necessidades
Para nos fazer, eles,
Reais também?
Sonhar é ser feliz.
A capacidade de sonhar
É um traço de inteligência,
Uma marca da Evolução...
II
Mesmo já carregando
Essas cicatrizes de entendimento
Dentro e fora de mim,
Nas linhas das mãos
Na maneira de olhar,
De tanto esperar,
Esqueci de expectativar
Que a Criação desde sempre
Guardou para cada um
Um último toque
Para resgatá-los se estivessem
Ermos de tudo e da alegria,
Viria ela para reavivar
O que morrera, e colorir
O que empretecera há muito,
Reestruturar dentro de cada um de nós,
Universos que somos
Históricas Cidades,
E reaproveitar elementos dispersos
Daquilo que um dia sonhamos
A Felicidade...
E então de tão intenso
Apegou-se a idéia azul
E tanto tempo passou
Sem que ela céu se fizesse
Que se cansou
E agora tanto tempo
A diante, sem mais lembrar
Dos sonhos que semeou,
E acarinhou, e os soltou...
Encontra com essas idéias
E renasce assim
Querendo mais que tudo
Em qualquer lugar
Acreditar novamente
E de novo provar da felicidade profunda
Mesmo que ninguém mais
Os possa levar com a seriedade dos anjos
Sentindo também em si felicidades
Extremadas...
III
E então corri fora do calabouço
Havia luz calor e vento,
Eu vivera novamente
E era livre,
E assim podia escolher em quem crer
A quem dar
Minha única hóstia
De confiança...
E eu atordoado,
Como uma criança aflita
Quis encontrar rápido
E encontrei...
Não...
Eu te vi e vi em ti o que eu desejava muito e rapidamente ver...
E te confundi
E te artefiquei de todas as formas
E pintei
E até te musiquei...
Em fim, entreguei a ti
Aquilo que te tanto o desejar
Já não o cria mais...
E fui sim feliz enquanto viveu
Aquilo que das profundezas de meu ser
Emergiu e resistiu
À tua biles de ódio até
Que suncubiu, pois
Foi como maçã dada a porcos
Você não entendeu,
E pelo carinho que o reforçaria
Você o tratava a pontiagudas facadas,
Alfinetadas malignas
Que o destruíam
Porem por ele ser tão forte,
O amor
Em ele morrer eu nunca acreditava...
Não morreu em mim
Porem de uma tênue lembrança
Ele não pode
Se autoformar
Sem as matérias com as quais
Você foi profundamente
E infinitamente amada...