Amor transcendental
Desejas assustar-me
com o bater estranho dessas asas...
Queres subjugar a minh'alma
e alcançar o transcendental sozinho.
Nesse momento fugaz és desarmônico
e o ar imperioso dos teus olhos
ameaça espocar na escuridão.
Preciso alcançar teu voo incauto
por um instante apenas...
Não te posso sentir oco, fútil,
a gotejar latente pavor.
Alcançarei teu brilho termântico e lascivo,
enfiarei nas tuas as minhas penas
e em libidinagem total voarei contigo
pelo Cosmos inigualável.
A estrela que persegues é minha,
o sol do qual tentas roubar um raio
é o mesmo que explode inteiro
dentro do meu peito
e essa flor despetaleada no teu bico
foi encontrada no jardim dos meus sentidos.
Desejas assustar-me
com o bater estranho dessas asas...
E essas garras? Também são tuas?
Não estavam presentes
no dia em que em lascívia total,
a mim, apertaste e abusaste.
Preciso alcançar teu voo incauto
por um instante apenas...
Esse universo inarmônico não é o mesmo
que nos ensinaram a sentir.
Tua primavera não mais faz flores,
nem teu verão o calor,
o outono esqueceu sua função
e o inverno é ardente e febril.
Equilibra tuas asas e vem alar comigo
no mesmo espaço sideral,
vem aparar as garras,
estabilizar os desequilíbrios
e suavizar os sentimentos,
para entrarmos juntos na perfeição rítmica
das estrelas e dos mundos...
Apaga essa ave arredia de ti mesmo
e cria-me ao teu lado nessa tela.
Vamos ser dois corpos
em desejo único.
Vamos ser Paz...
Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz.
Rio de Janeiro, [1986/1987?]