CARTA DE AMOR

Lá aonde a praia se encontra com o mar,

e o sol é de amarelos e de louros,

algas inertes vão dar à praia, paradas;

e, como um possesso, ponho-me a guardar,

meus sonhos – por sonhar – meus tesouros –

serão ricos, serão pobres: Virgens Sagradas!

Não preciso de nenhuma gruta, para disfarçar

minhas doutas riquezas; como os Mouros,

quando faziam das Rainhas, suas empregadas.

E se necessário for, me porei toda a noite a velar,

descalçando as botas, feitas de coros,

para molhar os pés cansados, nas águas geladas.

Tudo será a bem-se-ver, sem leis a incomodar…

que o maior sonho é ter nada, e negar o ouro –

valência, que nos faz tolos: às gentes desesperadas,

que de entressonho em entressonho vão parar,

a um qualquer manicómio, ou bebem do Douro,

o requintado vinho, que as vinhas, estão saturadas.

Meu pensamento aturado, à ilha, quer voltar…

depois que as geadas vieram – e eu não sou besouro.

(É tão fácil regressar, quando as pupilas ficam alumiadas).

Quero de novo a sensação, de na areia branca pisar,

rever, com moderada imaginação, meu tesouro,

que são meus sonhos, minhas Virgens Sagradas!

Mas, depois, de muito pensar, e de ponderar,

num último soslaio, vejo, sem que o veja, meu tesouro;

e as Virgens Anunciadas, afundam-se, bem afundadas,

com as ondas cavalo, nas crinas, trazendo o mar,

para levar tudo de volta, para os seus confins, anil e ouro –

digamos que preferi, pelas tuas mãos, acariciadas.

Jorge Humberto

12/01/11

Jorge Humberto
Enviado por Jorge Humberto em 12/01/2011
Código do texto: T2724894
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.