Epiléticas Visões de Amor

Quando de noite em segredo

Pranteio serena e palpitante,

No leito, sufocada pelo medo

Respirando apenas a saudade amante.

Nos monótonos sons vagos

Ouço sua voz de martírio,

De tão pensativa me indago

Seria mais um de meus delírios?

Da manhã bela n’um momento me vejo

No ápice dos lábios dele,

Dera-me o mais provido dos beijos

Nunca fora tão doce como aquele.

Ah... Os lábios dele de alento enigmático

Uni-lo-ei aos meus até o fim,

Que divina visão de um momento mágico

Sonhos no meu peito d’um coração carmim.

Mas neste crepúsculo de agosto,

A saudade cinzenta no desdém apavora

Derramada contra o júbilo imposto,

Ah se eu o tivesse aqui agora.

É no alvor florescente das campinas

Como um dia vernal da primavera

Que sinto o favônio acima da neblina

Apontando a direção d’onde ele estivera.

Como um canto de amor em meus ouvidos

Ouço sua voz com bastante altivez,

Uma visão que rói e tens me consumido

Parece real, mas é demasiada sensatez.

Da pupila de teus olhos jamais tão lindos

Que amor, beleza e mocidade apojada

Num olhar que fitava suave e infindo,

Que em tempos não viste nesta estrada.

Era inda visão, era mentira!

Estou a vagar na solidão perdida

Crer-ia ver ele que inda me delira

Por quê? Por que não sou destemida?

Mas eu o vejo, simplesmente vejo

E tanta magia pelo céu que escuta

Os ais do coração se enchendo de desejo

São relapsos d’onde a visão insulta.

Haveis de passar tão doces dias

Presa aos meus delírios de amor,

Como a cândida sombra alumia

Desmaiando cisma de madrugador.

Quiçá encontre volúpia macilenta

Que a noite ensine rimas à quietude,

Aqui nas praias onde o mar rebenta

Torna o amor n’uma poesia de vicissitude.

Mas são apenas versos em devaneio

Não sei mais o que é real ou ilusão,

Na noite escura só em relance enleio

Os meus sonhos na aurora d’aquele verão.

Leticia de Faria Trindade
Enviado por Leticia de Faria Trindade em 30/08/2010
Código do texto: T2468418
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