Procura-se

Procura-se um ser aveludado

Que sumiu há algum tempo,

E levou consigo um coração...

Ele tem olhos abissais, e leva

Uma bolsa cheia de ilusões...

Pede-se que se tenha cuidado,

É preciso distingui-lo discretamente,

Não se deve mirar o seu olhar...

Ele costuma deixar encantado

Todos aqueles que o fitar...

Ele aborda as suas presas

A dizer-se consertador de esperanças,

Traz nas mãos um tecedor de sonhos,

Um fluido que reave velhas lembranças,

E outro que provoca mister esquecimento...

Ele se aproveita de seres tristonhos,

Almas singelas e inveterados céticos,

Sua vítima não fica incólume,

Depois que ele a toca,

Ele a envolve numa teia de sonhos,

Num simples toque a rende,

E ela entrega de bom grado,

Todos os seus bens...

Ele leva o brilho dos seus olhos

E leva também a vontade de viver,

É preciso ter muito cuidado...

À noite ele adentra por portas de devaneios,

Nesse mundo irreal revela carícias,

E dilui tristezas sólidas,

Animando fantasias sutis e perigosas...

Procura-se esse ser ondulado,

De olhares oceânicos

Que já confundiu muita gente...

Jovens e velhos caíram em suas artimanhas,

Ele desconsidera experiências e idades,

E misteriosamente

Os prejudicados lhes querem bem...

Isso tem dificultado o trabalho das autoridades...

Aliás, como não se registra queixas,

As informações colhidas até agora,

Foram obtidas em registros incomuns,

Encontradas em papéis amassados,

Bilhetes de adeus,

E nomes feitos em sangues coagulados...

Mensagens tremidas escritas com batons

Em espelhos trincados...

Alguns loucos tem ajudado,

Psicólogos, psiquiatras e psicanalistas

Têm juntado esforços,

E tentam traduzir gestos e

Gritos, e choros, e silêncios demorados,

De suas vítimas mais profundas...

Os especialistas estão animados

Com recentes resultados...

Procura-se esse ser,

Desconfia-se que seja sobrenatural,

Tem entrado de forma sublime

Na mente de muita gente

E levado um pedaço de seus corações...

Qualquer informação será bem-vinda

Porque as autoridades não têm notícia do meliante,

Ele engana suas vítimas,

Recuperá-las tem sido extremamente difícil,

Até agora não se registrou sucesso

Nos vários tratamentos tentados

Dizem que conhece muitos idiomas,

Línguas mortas, e gírias da internet,

E que talvez tenha milhares de anos

Por isso tenha cuidado

Com esse ser de indizível beleza,

Não fechem os olhos demoradamente

Que por aí ele também costuma sublimar...

Ele surge e embala a nossa felicidade,

Mas depois ele vai-se embora deixando

No peito uma imensurável cavidade...

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 13/09/2006
Reeditado em 07/10/2022
Código do texto: T239533
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