Em Câmera Lenta
Certa vez, há muitos anos atrás
Talvez naquela época incerta
Em que criança já não somos mais
E que a vontade de amar já aperta
Naquele tempo de transição
Entre as ternuras adolescentes
Onde aprendemos amor e paixão
Onde se usa aparelho nos dentes,
Pois bem, por esse tempo então.
Naquele tempo, agora impreciso
Em que eu era um moleque calado
Que andava com passo indeciso
Entre ser muito, ou estar errado
Quando eu ouvia discos de rock
E aquilo me fazia tanto sentido,
Queria o mundo em estado de choque
E era recente meu coração partido
Naquele tempo, plantei uma semente
Que virou árvore, que cresceu bela
Um belo exemplar, de tronco potente
E vasta folhagem, de flor amarela.
É uma planta de especial virtude
De difícil trato, complicado incremento
E que seus bons frutos, só dá amiúde
Na generosa estação do merecimento.
Essa planta, por mais forte que venta
Não se dobra, só balança, gentil
Se move em perfeita câmera lenta
E com seus braços, abraça o anil.
Essa àrvore se encontra no jardim do meu ser
Chama-se àrvore da vida, do amor e do mito
E em câmera lenta, continua a crescer
Estendendo seus ramos até o infinito.